Alimentos continuarão em alta, diz FAO


Tarefa de alimentar a população mundial nesta década vai exigir novas estratégias de países importadores e soluções conjuntas do G-20


Jamil Chade, correspondente de O Estado de S. Paulo
GENEBRA - A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e multinacionais afirmam que os preços de commodities vão continuar elevados durante toda a década, exigindo de países importadores novas estratégias para enfrentar o desafio de alimentar sua população e do G-20 a implementação de decisões para frear a volatilidade nos mercados. "Viveremos uma década de preços altos", disse o brasileiro José Graziano, diretor da FAO.
Apesar de colheitas recordes, os preços de commodities superaram todas as barreiras a partir de 2007. A crise mundial fez a demanda perder força. Mas não o suficiente para reverter a tendência, segundo executivos de empresas, organismos internacionais e governos, que ontem se reuniram em Genebra para debater o futuro da produção de alimentos no mundo.
Todos apontam na mesma direção: alimentar mais 2 bilhões de pessoas nos próximos 40 anos terá um forte impacto nos mercados, na produção e, acima de tudo, nos preços, diante da emergência de milhões de consumidores que até agora viviam abaixo da linha da pobreza.
Graziano, apresentado internacionalmente como o pai do Fome Zero no Brasil, admite que a organização que dirige não tem recursos. "Tenho US$ 1 para cada pessoa faminta no mundo por ano", lamenta. Para 2012, a FAO terá orçamento de US$ 1 bilhão. "A FAO não tem dinheiro e não vai resolver o problema da fome sozinha. Precisamos dos governos, e nisso não vamos bem."
O diretor da FAO estima que os preços altos são positivos para os exportadores brasileiros. Mas diz que, por enquanto, a volatilidade reduz os ganhos e não é boa para ninguém. "Estamos todos preocupados com a volatilidade, que não beneficia nem o produtor nem o consumidor."
Graziano revelou que, no próximo mês, o G-20 implementará as decisões que tomou em 2011 para garantir maior transparência no mercado agrícola e, assim, reduzir a volatilidade. Um sistema foi criado para a troca de informações e ele garante que China, Índia e multinacionais, além de europeus, americanos e brasileiros, começam a repassar os dados sobre sua produção anual. Mas, para o ministro de Agricultura da França, Bruno Le Maire, o sistema levará anos para de fato começar a funcionar.
Dependência
Para o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, a questão dos preços de alimentos não está resolvida e só será solucionada com um aumento da produção. Segundo ele, a dependência de um número pequeno de grandes produtores, como o Brasil, precisa acabar, para permitir que a produção aumente de forma significativa nos próximos anos. "Hoje cinco países produzem 70% do arroz consumido, e três produzem 80% da soja."
"Podemos estar fazendo apostas arriscadas com o nosso futuro se não deixarmos que a produção prospere em outros lugares do mundo", alertou, em um recado direto ao principais produtores mundiais.
Sua aposta é a África, que deve receber investimentos no setor agrícola e mirar no exemplo brasileiro como forma de ampliar sua produção. "O milagre brasileiro pode e deve ser repetido", disse o francês, lembrando que o País deixou de ser importador para se tornar o quinto maior exportador de alimentos em apenas 30 anos

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