‘Bloco dos fujões’ puxa fila e esvazia plenário da Câmara


Deputados enforcam sessão - não sem antes registrar presença para garantir R$ 2 mil pelo dia de ‘trabalho’ - e fogem para aeroporto


Eugênia Lopes, Beto Barata e Ed Ferreira, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O carnaval começou três dias antes para os deputados federais. Nada que os impeça, no entanto, de receber cerca de R$ 2 mil apenas para marcar presença no painel fantasma da Câmara. Na quarta-feira, 15, a Casa fez sessão deliberativa somente para analisar projetos previamente acordados, sem votação nominal. Bastou a deputados marcarem presença para não sofrer desconto no salário, garantindo a folia pré-carnavalesca remunerada.
Sessão da Câmara na quarta-feira, 15, já esvaziada em razão das viagens de carnaval - Beto Barata/AE - 15.02.2012
Beto Barata/AE - 15.02.2012
Sessão da Câmara na quarta-feira, 15, já esvaziada em razão das viagens de carnaval
Cenário comum somente às quintas-feiras, quando os deputados voltam para os seus Estados, a Câmara ficou vazia na quarta-feira, na esteira do bloco dos fujões. A maioria dos deputados anotou presença, garantiu o salário e foi embora. É o caso, por exemplo, do deputado Fernando Torres (PSD-BA): ele marcou presença no plenário às 9h04 e, minutos mais tarde, às 9h42 foi flagrado no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, pela reportagem do Estado.
O deputado Paulo Maluf (PP-SP) foi outro que fez questão de confirmar presença cedo no plenário, às 9h07, mas foi para o aeroporto três horas depois, às 12h10. Aberta às 9h, a ordem do dia da Câmara, quando são votados os projetos, começou às 11h08 com 303 deputados. Menos de duas horas depois, a sessão presidida pela deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) foi encerrada e o painel já registrava a presença de 407 deputados.
Ao longo do dia, a presença virtual foi subindo, chegando a 450 deputados no final da tarde. Na realidade, porém, apenas meia dúzia de parlamentares passou o dia se revezando ao microfone em discursos entediantes.
A debandada foi mais acentuada pela manhã. Alguns parlamentares, como o deputado Biffi (PT-MS), optaram pelo traje informal, sem o tradicional terno, para correr ao plenário e marcar presença. Cinco deputados da Bahia que, talvez por ansiedade de se esbaldar no tradicional carnaval baiano, foram flagrados embarcando no aeroporto de Brasília enquanto o painel da Câmara ostentava suas presenças.
"É complicado pegar avião para Salvador na véspera de carnaval", justificou o deputado Sérgio Barrradas Carneiro (PT-BA). Irmão do prefeito de Salvador, João Henrique (PDT), Carneiro argumentou que a maioria do trabalho de parlamentar não é feito no plenário, e sim no Estado. "Estar em plenário e votar é apenas uma das atividades de um parlamentar", disse o petista, relator do Código de Processo Civil.
Para evitar que os parlamentares sofram desconto no salário, como o caso do deputado Romário (PSB-RJ), que não apareceu na sessão pela manhã, a presidência da Câmara deixou o painel aberto durante todo o dia de quarta-feira. Com isso, mesmo quem não marcou presença pela manhã (até as 13h) teve assegurado o recebimento de cerca de R$ 2 mil pela participação na sessão fantasma.

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