Família faz queixa de negligência médica contra UPH da zona oeste


Daniela Jacinto 
daniela.jacinto@jcruzeiro.com.br 

O pedreiro Júlio César Machado morreu em 29 de janeiro de 2012, na Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da zona oeste, dia em que completaria 26 anos de idade. Sua família está revoltada com situação e reclama que houve negligência no atendimento médico. Conforme a esposa Solange Aparecida Gomes Machado, Júlio saiu de casa no dia anterior, de bicicleta, para ver um serviço, e voltou sentindo formigamento no braço e dores no peito. Desconfiada de ser um sintoma de enfarte, a família o levou para a unidade de saúde, porém ficou surpresa quando os médicos o internaram com diagnóstico de intoxicação por cocaína. "Ele não era usuário de drogas, aliás nunca fumou nem mesmo um cigarro", alegou a esposa. Apesar disso, os médicos atestaram o óbito como "causa indeterminada" e o caso foi parar na polícia, onde foi registrado boletim de ocorrência. 

A Secretaria Municipal da Saúde (SES) defende-se que o atendimento prestado ocorreu "dentro dos procedimentos normais de uma unidade pré-hospitalar (urgência e emergência)". "O paciente recebeu o atendimento oportuno e adequado, conforme o quadro clínico que apresentou ao chegar à UPH. Mas, infelizmente, foi a óbito. A coordenação da UPH informou que o corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e que aguarda o laudo do instituto, que apontará a causa da morte do paciente. 

Humilhação 

Solange acha estranho que o marido tenha sido diagnosticado com intoxicação por drogas sendo que a pressão arterial medida pela unidade no momento em que deu entrada foi registrada em 100 por 60, considerada baixa. "Geralmente pessoas nesse estado apresentam pressão alta", argumenta. Solange mostrou uma cópia do prontuário onde constam as anotações sobre a pressão aferida e os medicamentos prescritos. Outro fato que estranha é constar na declaração de óbito que Júlio "deixa filhos pré-mortos", sendo que ele e a esposa tinham um filho, que está vivo e tem três anos de idade. "Meu marido passou quase seis horas de agonia e o que mais espanta é que deram muitos remédios para ele, mesmo sem terem feito nenhum exame antes", conta. 

Júlio deu entrada na UPH da zona oeste por volta das 20h30 do dia 28 de janeiro e morreu às 2h15 do dia 29. "Não me conformo com o que aconteceu. Quando a gente chegou, amarraram os braços e pernas dele na cama, ele se debatia, queria passar a mão no coração onde estava doendo e não podia, só conseguia gemer e falar que estava doendo. Ele gritava "pelo amor de Deus eu não quero morrer". Na verdade os médicos não sabiam o que ele tinha, estavam tentando adivinhar", relata. 

Solange contou que durante todo o tempo que o marido permaneceu no local, ele e a família foram humilhados. "Falaram que ele era louco, perguntaram se tinha algum caso assim na família, depois chamaram ele de drogado e falaram para eu esperar passar a "brisa" dele, como se ele fosse usuário de drogas. Eles ainda disseram que a responsabilidade era minha, que não consegui acalmar ele. Nem um cachorro merece um tratamento desses", emociona-se. 

Solange e os familiares - pai, mãe e irmãos de Júlio - lembram que ele sempre foi o mais tranquilo da família. "Ele tinha paciência pra tudo." Ainda de acordo com a esposa, os médicos não informaram a família sobre o óbito. "Eles não tiveram a capacidade de vir até nós falar que ele havia falecido, eu só soube disso porque acabei entrando na sala", diz. 

Os familiares de Júlio reclamam do descaso na saúde pública e do tratamento dispensado a ele. Por conta da situação, a família contou que ficou revoltada e inclusive os enfermeiros chamaram a polícia para eles na unidade de saúde. "Esperamos que a Justiça seja feita, para que isso não aconteça com mais nenhuma família, que ninguém mais passe a dor que a gente está passando. Para os médicos foi mais um, mas para nós perdemos um pai, um esposo, um irmão bom... Ele tinha sonhos de ver o filho crescer, aliás ele queria ter levado o filho para o primeiro dia na escola (ontem). Que a Justiça seja feita, a de Deus será, mas quero que a dos homens também. Antes de morrer ele queria ser enfermeiro, porém agora foi morrer na mão deles, eu quero justiça", desabafou a esposa.

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