'Chinaglia pediu que eu não revelasse mensalão', diz Jefferson


Ex-deputado e atual presidente do PTB afirma ter sido procurado pelo deputado petista e hoje líder do governo para ficar calado e preservar mandato


Débora Bergamasco, de O Estado de S. Paulo
Às vésperas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, diz que Arlindo Chinaglia (SP), então líder do governo, ofereceu uma "saída pela porta dos fundos" para que não seguisse com a denúncia que abalou o governo petista em 2005.
Ex-deputado Roberto Jefferson assume presidência do PTB - Ed Ferreira/AE
Ed Ferreira/AE
Ex-deputado Roberto Jefferson assume presidência do PTB
Pela proposta, Jefferson entregaria a presidência do PTB ao então ministro Walfrido dos Mares Guia (hoje no PSB). Depois, seria escalado um "delegado ferrabrás" para tocar o processo e um relatório pelo não indiciamento do petebista.
"Acharam que eu ia me acovardar. Me confundiram com o Valdemar Costa Neto. De joelho eu não vivo, eu caio de pé", disse Jefferson ao Estado antes da Convenção Nacional do PTB, nessa quarta-feira, 18, em Brasília. Durante mais de três horas, discursos enalteceram a "coragem" do ex-deputado por denunciar o maior escândalo do governo Lula.
A reunião do PTB foi feita para mostrar ao Supremo que Jefferson não é um "qualquer" e que goza de prestígio em seu partido. Ideia do advogado do réu petebista, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que sugeriu antecipar o evento, previsto para novembro, e transformá-lo em "convenção-homenagem".
Carlinhos Cachoeira deveria falar tudo o que sabe à CPI?
Ele é um homem de negócios, não é um homem público. O político tem o patrimônio moral, que é a imagem, para preservar. Ele é chamado de bicheiro, seus negócios nunca foram, assim, muito dentro da lei. Será que ele está zangado? Tem mais é que se preservar mesmo.
Ao denunciar o mensalão, o sr. queria preservar sua imagem?
Claro. Me foi oferecida a troca: eu sairia da presidência do PTB, a daria ao Walfrido. Seria nomeado um delegado ferrabrás para o processo. E o relatório seria pela minha absolvição, pelo não indiciamento. Quer dizer, eu viveria de joelhos, sairia pela porta dos fundos. Eu falei: "Não vou, não. Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Ou vocês arrumam isso que vocês montaram ou vou explodir isso". Não toparam e foi o que eu fiz. Acharam que ia me acovardar, que eu tinha jeito de Valdemar Costa Neto (presidente do extinto PL, hoje PR, e réu do mensalão), que ia renunciar para depois voltar. De joelho eu não vivo, caio de pé. Fiz o que tinha que fazer. Fui julgado errado pela turma do PT.
Quem fez essa proposta?
O líder do governo (Arlindo) Chinaglia foi à minha casa e fez a proposta. Eu disse: "Não tem a menor chance de dar certo. Não vai para frente".

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