Compra de trens chineses obriga metrô do Rio a reformar túneis e estações


Sindicalistas e especialistas dizem que mudanças são necessárias para evitar colisões laterais; concessionária afirma que são só ‘ajustes’


Heloisa Aruth Sturm e Marcelo Gomes, de O Estado de S.Paulo
RIO - A concessionária MetrôRio está fazendo obras em túneis e estações por causa do iminente início de operação dos 19 trens comprados na China. Sindicalistas e especialistas em transportes dizem que as adaptações são necessárias para evitar que as novas composições, mais leves que as atuais, sofram colisões laterais. A concessionária afirma que são apenas ajustes para "adequação a padrões internacionais".
Composição é feita de trens motorizados e a reboque, que sofrem movimento lateral - Fabio Motta/AE
Fabio Motta/AE
Composição é feita de trens motorizados e a reboque, que sofrem movimento lateral
No centro da discussão está o novo modelo do trem, diferente do que vem sendo utilizado no Rio e em São Paulo. Enquanto as composições atualmente em uso são formadas por vagões independentes com tração em todos os eixos, o que permite total aderência aos trilhos, os novos trens chineses são "reboques", com alguns vagões motorizados e outros que operam sem tração. Nesse caso, mais leves, têm aderência menor e a tendência é movimento lateral maior.
"É mais ou menos como um carro de tração 4X4: tem dois eixos que funcionam como peso, chamado peso aderente. Isso faz com que ele possa sair de situações mais adversas e possa usar toda a potência do motor", explica o professor de Engenharia de Transportes da Coppe (pós-graduação de Engenharia da UFRJ) Hostílio Ratton Neto. "Quando você só tem dois eixos, você não pode usar toda a potência do carro porque o peso aderente é bem menor. É o que talvez seja o problema desse sistema", avalia.
De acordo com Fernando MacDowell, especialista em Engenharia de Transportes, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e ex-diretor de Planejamento do Metrô (1975/1979), a concessionária não teria levado em consideração o gabarito aerodinâmico dos novos trens, o que poderia causar descarrilamentos, colisões em estruturas de concreto e outros acidentes. "Quanto maior a velocidade, mais o trem chacoalha. Se o tamanho do túnel for muito estreito, os chacoalhões podem causar colisões."
O gabarito dinâmico é o tamanho mínimo para a passagem do comboio, em um cenário em que se apresentem as condições mais adversas no trajeto. É preciso levar em conta, portanto, medidas como dimensões dos carros, velocidade operacional, desgaste dos trilhos, suspensão dos vagões, espaço para as passarelas de emergência e raio das curvas do trajeto.
"Para evitar acidentes, deveriam ser feitos ajustes de 2cm até 3cm em alguns trechos e estações", diz MacDowell. O MetrôRio admite que está realizando obras de adequação em alguns túneis e plataformas, mas nega que as intervenções sejam decorrentes de problemas.
Projeto. Com um investimento de R$ 320 milhões, o MetrôRio promete colocar em operação, até março de 2013, 19 novos trens, com seis vagões cada - o que implica aumento de 63% na frota. As três primeiras composições já chegaram à cidade e estão em testes. A previsão é de que o primeiro trem inicie as operações em agosto. Além desses, outros 17 serão adquiridos para operar na Linha 4, atualmente em obras de expansão para ligar Ipanema, na zona sul, à Barra da Tijuca, na zona oeste.
Em maio do ano passado, a Agência Reguladora de Serviços Concedidos de Transportes (Agetransp) multou o Metrô Rio em R$ 374 mil por não ter colocado os novos trens chineses em circulação em agosto de 2010. O prazo havia sido estipulado no sexto termo aditivo ao contrato de concessão, assinado em dezembro de 2007.

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