Estudo aponta córregos que poluem represa



Esgoto doméstico afeta qualidade do manancial por meio dos afluentes Paruru, Ressaca e Campo Verde

 Jornal Cruzeiro do Sull

Giuliano Bonamim
giuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br


Os córregos do Paruru, Ressaca e Campo Verde são os maiores contribuidores para a deterioração da qualidade da água da represa de Itupararanga. Um estudo realizado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), pertencente à Universidade de São Paulo (USP), revela que esses braços situados nas regiões de Ibiúna e Piedade recebem uma grande quantidade de esgoto doméstico que causam impactos negativos no manancial.

Os dados foram publicados em fevereiro e constatados por um grupo de estudo coordenado pela professora Maria do Carmo Calijuri e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). A análise contraria a falsa percepção de que as áreas no entorno da represa seriam as grandes responsáveis pela poluição do reservatório. 

Atualmente, uma das margens da represa está preservada com mata nativa. A outra foi ocupada por propriedades rurais, onde se cultivam verduras, milho, morango, cebola, batata e tomate, além de haver algumas regiões de pastagem. Segundo a pesquisa, a maior parte da carga de poluentes que entra na represa vem dos afluentes. Nessas regiões há a concentração de indústrias de diversos setores, além de condomínios residenciais, chácaras e casas de veraneio, que despejam esgoto in natura diretamente nos rios e córregos, sem tratamento adequado. 

De acordo com Maria do Carmo, a carga pesada de poluentes que entra no reservatório vem dos rios tributários da represa. "Não que a carga difusa de poluentes gerados pela atividade agrícola não contribua para sua deterioração, mas a carga pontual de poluentes dos afluentes é que modifica muito rapidamente a qualidade da água do reservatório", comenta. Os resultados do estudo até o momento revelam que o reservatório apresenta um estado mesotrófico com cargas de fósforo e nitrogênio. Isso terá implicações na qualidade da água, no aumento da produtividade primária e na ocorrência de florações de fitoplâncton (algas) potencialmente tóxicas, capazes de inviabilizar os múltiplos usos do reservatório.

Esse estudo responsável por indicar a deterioração da qualidade da água do reservatório de Itupararanga também pode contribuir para a gestão integrada dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Sorocaba. "O manejo adequado das microbacias existentes contribuirá para melhorar a qualidade da água do reservatório", diz Maria do Carmo.
 
Estudo 
A pesquisa dividiu o reservatório em compartimentos e realizou coletas de amostras de água para identificar quais os organismos e compostos estão presentes no manancial. As análises das amostras revelaram a existência de comunidades de macrófitas -plantas aquáticas indicadoras de poluição - principalmente nos braços alimentados pelos córregos do Paruru, Ressaca e Campo Verde.

O relatório atesta que esses braços (desembocaduras) da represa de Itupararanga tornam-se os maiores contribuidores para a deterioração da qualidade da água. A pesquisa também inclui em um patamar menor os rios Sorocamirim e Sorocabuçu, que são os principais formadores do reservatório e também causam impactos negativos no manancial. "A mistura da água no corpo central e os processos naturais de depuração contribuem para a melhoria da qualidade da água da represa, como um todo. Mas alguns braços estão muito comprometidos.", afirma o documento.

O trabalho constatou que a atual qualidade da represa pode interferir no abastecimento dos municípios da região. Itupararanga é um dos principais fornecedores de água para as populações de Votorantim e Sorocaba. Já a área de drenagem abrange as cidades de Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim. O relatório final do projeto será finalizado em fevereiro de 2013 com o apoio de pesquisadores da USP, Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e Unesp (Universidade Estadual Paulista). O resultado será disponibilizado aos interessados.

O diretor de Meio Ambiente de Ibiúna, Fernando Rosa, diz conhecer a realização do estudo e ainda não o resultado desse trabalho. "Não tivemos acesso à metodologia", diz. O córrego Paruru nasce no município e os demais passam pela cidade.

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