Desabrigados no Haiti querem deixar acampamento e voltar para casa



Porto Príncipe - A visão que se tem para quem chega no acampamento de desabrigados Campo de Golfe é de um vale encoberto por um mar de tendas. Onde antes funcionava um clube de golfe frequentado pela elite do Haiti, na área nobre de Pétion-Ville, no subúrbio da capital, agora vivem cerca de 30 mil pessoas, que perderam suas casas durante o terremoto de janeiro deste ano.
A reportagem da Agência Brasil entra no acampamento com a comitiva do Ministério da Defesa brasileiro. A delegação é escoltada por um pelotão de capacetes azuis do Brasil. O clima é de aparente tranquilidade no local. Bem diferente de dias atrás, quando a Minustah precisou reforçar a segurança no acampamento, depois de receber a informação de que bandidos da Favela de Cité Soleil planejavam invadir o local.
O ataque não se concretizou, mas a Minustah alertou que é preciso ter cautela ao entrar com a comitiva do governo brasileiro no Campo de Golfe. Logo na entrada, há um centro de tratamento de cólera das Nações Unidas, com muitas pessoas sendo atendidas.
Há ainda uma escola, onde crianças do acampamento estudam. Segundo a Minustah, o Campo de Golfe é um dos cerca de 900 acampamentos que existem em Porto Príncipe e arredores e apresenta um certo nível de organização, já que é apadrinhado pelo ator norte-americano Sean Penn.
O artesão Yves Claude George Fils, de 39 anos, é um dos moradores do local. No “quintal” de sua barraca, montou um ateliê com os quadros que ele e seus aprendizes pintam. As obras custam entre 10 e 60 dólares, mas é possível pechinchar. “Agora eu vendo mais do que antes do terremoto, por causa dos estrangeiros que vêm aqui ao acampamento”, diz Yves.
Apesar de seus negócios renderem um bom dinheiro, Yves lembra com saudade da casa onde morava com a mulher. “Quero sair daqui. Essa vida não serve para mim. Já vivi muito bem, mas hoje não vivo tão bem”, conta o artesão, em espanhol, apontando para o outro lado do vale, onde ficava a sua casa.
Sentado sob a tenda onde funciona o ateliê de Yves, está Lesly Peter. Ele também teve a casa destruída e precisou mudar para o acampamento do Campo de Golfe. Conta, em creole, que é bombeiro hidráulico, mas que hoje não tem mais emprego. “Só Deus sabe como eu ganho dinheiro. Acabo fazendo bicos para as ONGs [organizações não governamentais], limpando ruas. Aqui no acampamento é muito ruim. A gente não tem vida aqui”, disse.
Lesly garante que votará nas eleições de domingo (28). Ele já escolheu seu candidato a presidente e diz acreditar que o escolhido, se for eleito, poderá melhorar sua vida. “Eu acredito nele”, diz. Ele mora no Campo de Golfe com a mulher e dois filhos.
Eliazard Ann Marie, de 55 anos, é outra moradora do acampamento. Ela fala em deixar o local e voltar para o lugar onde morava antes do terremoto. Mas como não tem como reconstruir sua casa, precisa continuar ali. A desabrigada confessa um drama. “Quando minha casa desabou, consegui retirar meus móveis e deixar na casa de uma amiga. Mas agora ela diz que eu preciso tirá-los de lá. Mas não há espaço na minha barraca”, disse.
Sem trabalho, ela mora no acampamento com os dois filhos e reclama do ex-marido, que segundo Eliazard Ann, não a ajuda nem a seus filhos.
Apesar dos moradores entrevistados pela Agência Brasil manifestarem o desejo de sair do acampamento, os militares da Minustah afirmam que muitos não pensam assim e preferem continuar nesses locais, onde recebem assistência e comida de ONGs e de organismos internacionais.


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