CUIDADO COM OS NÚMEROS

do Jornal da Estância
Estava lendo um livro sobre estratégias eleitorais e fiquei interessado com o ponto de vista do autor quando comparava informações estatísticas e tirava delas uma conclusão. Neste livro ele afirma que as mulheres são mais propensas a mudar de opinião. O autor do livro afirma que as mulheres decidem-se mais tardiamente nos ciclos eleitorais e são mais propensas a mudar o seu voto. Em uma pesquisa realizada pelo Norman Lear Center da Universidade da Califórnia do Sul, em parceria com o Instituto Zogby International, conforme informado no livro, verificou que 62% dos eleitores “moderados”, ou seja, aqueles com posições equilibradas e mais flexíveis sobre as questões da pauta eleitoral, eram mulheres. O autor continua o seu relato e conclui que na eleição presidencial de 2006, no Brasil, o Instituto Datafolha revelou, em agosto, que 33% das eleitoras que haviam escolhido um candidato admitiam ainda mudar seu voto, o que só ocorria com 22% dos homens.
Neste primeiro parágrafo carregado de referências e números, podemos facilmente ser levados a acreditar que as mulheres são realmente mais propensas a mudar o seu voto na última hora, mas gostaria de fazer outra releitura deste parágrafo: O autor deixa de citar os outros 77% de mulheres que não mudaram o seu voto na última hora. Será que um número tão expressivo não merece ser considerado? É justo dizer que os 33% determinam mais que os 77% de mulheres?
Seguindo esta linha de raciocínio, fico me questionando a respeito de outras estatísticas e forma de ver os mesmos números. Quando eu era interventor da Santa Casa de São Roque, me pediram para comprar dois Berços Neonatal, o que uma pessoa me desaconselhou a fazer, tomando como base que haviam outras prioridades, pois a mortalidade infantil em São Roque estava abaixo dos índices internacionais. Será que posso dizer para uma mãe que acabou de perder o seu filho que a morte dele é justificada por estar abaixo dos índices internacionais? Acredito que não.
Outra coisa que me questiono: Será que a minha cidade está bem pelo simples fato de estar melhor que outros municípios? Ou será que deveria comparar com municípios que estão melhores que o nosso para que desta forma possamos melhorar ainda mais? Na primeira comparação temos uma tendência ao conformismo, soltando frases do tipo “Tá ruim, mas tá bom”, enquanto que na segunda passamos a verificar os pontos falhos e os pontos para serem desenvolvidos, e neste momento nos perguntamos: Por que municípios que têm a mesma idade e as mesmas condições estão melhores que o nosso, e de que forma podemos buscar estas melhorias?
Uma coisa eu aprendi: Temos que tomar muito cuidado com números e comparações, pois a pessoa que escreve pode manipulá-los da forma que melhor convier para atingir o seu objetivo de convencer a opinião pública de que tudo está bem. E se estiver bem... não poderia estar ainda melhor?
Vorneis de Lucia
Consultor em Gestão Estratégica

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