Qual o sentido de comemorar o Natal?

O Natal representa o nascimento de Cristo e para agradar os pagãos a Igreja Católica fixou esta data no dia mais longo do ano.A memória a ser festejada é do nascimento de Cristo no estábulo, ou seja, o filho de Deus nasce entre os mais pobres e entre os animais, símbolo de que a presença de Deus requer harmonia entre o ser humano e a natureza.O presépio representa exatamente este momento, em que Deus mostra o seu amor a todos os seres vivos e sua compaixão com os mais necessitados.
O capitalismo não quer divulgar esta imagem do presépio e quer apaga-la nas ruas de várias cidades. Ao mesmo tempo procura divulgar apenas a do Papai Noel, na da mais que o santo Nicolau que nos anos trinta do século passado foi recriado pela Coca Cola.A exclusão do presépio ajuda a transformar o Natal em uma simples troca de presentes e serve de pretexto para um consumismo desenfreado. É claro, que não pretendemos expulsar o Papai Noel do Natal, mas propor uma reflexão a memória que queremos compartilhar, além de buscar não perder o sentido maior de nossa comemoração e a importância do presépio criado por São Francisco de Assis em 1223.
A tradição Ibérica é que os presentes sejam entregues no dia de Reais e valoriza o presépio como símbolo de uma vida nova e de renascimento do ser humano.O mais importante não é o presente, mas lembrarmos que somos filhos de Deus e que amamos todos os seres vivos, especialmente o nosso próximo.
Estranhamente, o bispo de Guarulhos, que se declara tão preocupado em aparentemente manter a fé cristã se cala ante este fato, mas para atacar os seus adversários ideológicos, ou seja, Dilma e Lula, ele agiu de forma rápida e rasteira.
QUE TODOS TENHAM UM NATAL BRASILEIRO E UM GRANDE ANO NOVO !!!
 
Recebi e compartilho com vocês esta bela poesia sobre o sentido do Natal:

Organiza o Natal

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que,
 com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar
 que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil,
 com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a
 continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos,
 marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o
 desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant,
 núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente,
 será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e
 elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só
 transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera,
 pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá
 jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando
 o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que
 livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um
 livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão
 arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras,
 polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis
 trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem
 tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois
 jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da
 manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições
 caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.

Carlos Drummond de Andrade

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