Ajustando a sintonia com os leitores


Paulo Machado
Ouvidor da Agência Brasil
Brasília - A cara de um jornal é sua capa. Na era da informação, a primeira página eletrônica de um portal reflete o conteúdo que o leitor encontrará na navegação. Até aí nenhuma novidade, mas é da primeira página que muitos leitores alimentam estados de ânimo. Se as notícias lhes parecem “negativas”, isso pode deprimi-los? E ao contrário? Notícias “positivas” animam o seu dia? O que determina a cara de um site noticioso?
Quem levantou essa rica polêmica foi o leitor Carlos Antonio Morelli ao manifestar sua opinião: “Prezada Ouvidoria. Em primeiro lugar obrigado pela oportunidade de ter esse espaço para me pronunciar. Leia isso como minha opinião. Tenho sessenta e dois anos e sempre procurei estar a par das mais importantes notícias e algo acontece comigo invariavelmente desde que me conheço como leitor. Quando o jornal cria o hábito de dar como matéria principal algo negativo automaticamente passo a acreditar que algo com o jornal está errado, foi assim com o Diário Popular, com o Estadão, com a Folha de São Paulo e outros. Adorei a idéia de conhecer o jornal 'Agencia Brasil’ mas já está me  incomodando. Invariavelmente a primeira e mais destacada notícia tem uma conotação negativa. Acredito piamente que todas pessoas querem acordar bem, carregado de energia e sinceramente essa linha de um jornal passa ser uma ducha de água gelada no animo das pessoas. Novamente:é uma opinião minha.”
A Agência Brasil respondeu ao leitor: “Agradecemos a mensagem com a opinião do leitor sobre a cobertura da Agência Brasil. Suas observações serão levadas em consideração em nossa reunião de pauta.”
O jornalismo trabalha com a hierarquização de notícias, geralmente proveniente da hierarquização da pauta. É nela que os editores discutem quais são os assuntos mais importantes e, portanto, aqueles aos quais dedicarão mais tempo e recursos. Deste procedimento resultarão as principais manchetes - uma decorrência quase automática daquilo que julgaram ser os assuntos de maior interesse para o público alvo do veículo.
Portanto, ao discutir a pauta e a hierarquia dos assuntos os jornalistas trabalham a partir de conceitos e valores que devem estar explicitados em um Plano Editorial, como, por exemplo, a missão, os objetivos, o publico alvo, as estratégias editorias e daí por diante.
Em um jornalismo bem planejado, esse referencial teórico deve nortear as decisões editoriais e refletir-se na cara do veículo.
Em um jornalismo não tão bem planejado, as decisões editorias tomam como referência apenas as impressões pessoais dos editores sobre aquilo que julgam ser de interesse de um difuso e desconhecido público, o qual acham que conhecem e ao qual atribuem empiricamente gostos, predileções e interesses. É um exercício cotidiano de “achismo” – ligam o seu “desconfiômetro” particular e “chutam” quais assuntos são mais interessantes, ou seja, decidem o que os leitores devem saber a partir de seu entendimento pessoal da conjuntura, das características particulares do veículo e do retorno financeiro esperado pela venda da informação.
Às vezes acertam o “chute”, outras, jogam a bola na arquibancada.
Em recente episódio, um jornal de grande circulação de São Paulo resolveu redimir-se de um “chute” errado dado há 21 anos. Ao comemorar suas 30 mil edições, estampou uma capa “virtual” com aquela que deveria ter sido a manchete por ocasião da queda do muro de Berlim. Na ocasião seus editores não julgaram o fato suficientemente importante sendo tratado como um assunto quase irrelevante, apenas nas páginas internas. A manchete na primeira página foi reservada a um escândalo da política nacional – “Tribunal cassa candidatura de Santos” (*).
Mas na agência pública, o jornalismo não tem espaço para “chutes”, sejam eles certos ou errados.
A pauta de uma agência pública de notícias é coisa um pouco mais complexa. Ela deve ser diferente da pauta que move o jornalismo "privado". Tanto o jornalismo público como o privado estão com a mesma pauta todos os dias e ela é baseada sempre na agenda pública, na agenda privada e nos eventos que acontecem sem previsão de agendas, mas, simplesmente, eventos.
A pauta, baseada na agenda pública, trata dos assuntos elencados trabalhando a cobertura dos respectivos processos. Esse precisa ser o principal diferencial. São os processos geridos pelos governos que administram o estado que embutem tudo que interessa ao cidadão.
A agência pública precisa ter os dois olhos cravados no cidadão – é o foco no cidadão. Sua pauta integra todos os processos no país que tangenciam os interesses do cidadão.
Voltando à opinião do leitor, sobre a qual não cabe julgamento desta Ouvidoria, a cara da agência pública merece ser pensada a partir dos pressupostos considerados acima para que corresponda à expectativa de nosso público alvo.
Mas, além disso, há ainda que se levar em consideração também àquilo que as notícias produzem no ânimo do cidadão para não “ser uma ducha de água gelada”. Mesmo na mais controversa conjuntura, sempre há fatos positivos que merecem destaque se trabalharmos os aspectos que contribuem para o desenvolvimento da cidadania e que resultem no progresso do ser humano.
Até a próxima semana.

Postar um comentário

0 Comentários