Conto de Fadas: ‘Juro por Deus: não peguei dinheiro do CHS’



Heitor Consani, ex-diretor do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, que foi preso acusado de envolvimento com uma quadrilha de fraudadores, desabafa ao BOM DIA. Ele diz ser inocente, aponta suposto líder do esquema e afirma que tinha a convicção de que poderia acabar com os crimes praticados na unidade

Gilson Hanashiro/ Agência BOM DIAMédico  fala com o BOM DIA ao deixar o Mercadão Campolim, onde se reuniu com amigos em pelo menos duas oportunidades nos últimos dias. Foi a primeira vez que ele deu declarações a um veículo de imprensa desde que escândalo estourou, em 16 de junhoMédico fala com o BOM DIA ao deixar o Mercadão Campolim, onde se reuniu com amigos em pelo menos duas oportunidades nos últimos dias. Foi a primeira vez que ele deu declarações a um veículo de imprensa desde que escândalo estourou, em 16 de junho
Mayco GerettiAgência BOM DIA
Acusado de integrar e ser um dos cabeças de uma quadrilha que fraudava plantões e licitações há anos no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, Heitor Consani enfim deu sua versão sobre os fatos. Terça (28), em conversa exclusiva com o BOM DIA, ele afirmou que em nenhum momento se envolveu com atividades criminosas dentro do hospital. Ao contrário, disse que já estava promovendo mudanças para acabar com as fraudes na unidade médica.(Veja cronologia do caso ao final da matéria)

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Abaixo o BOM DIA publica trechos da conversa  que Heitor teve com a reportagem, apenas ordenando os tópicos abordados para que a leitura seja facilitada para o leitor.
O médico foi enfático ao negar que possua qualquer vínculo com as atividades ilícitas. “As pessoas me colocam como um dos cabeças do esquema criminoso dentro do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, mas se esquecem que eu estive como diretor-geral da unidade somente nos últimos quatro meses. Estou trabalhando lá desde 1999. Toda minha história como médico está ligada ao Conjunto. Tenho amor por aquele lugar. Eu sabia da existência de irregularidades, mas não pude mudar e consertar tudo em quatro meses. Eu estava tomando providências conforme as irregularidades iam aparecendo e já havia levantado muita coisa. Quando fui preso, levei os policiais e promotores a documentos que estavam no CHS e que eles desconheciam. Em quatro meses demiti 40 funcionários envolvidos em irregularidades. Desarquivei sindicâncias que estavam esquecidas e abri novas.”
Indagado se teria errado ao não tornar públicas as irregularidades em plantões e licitações, Heitor afirma ter optado pela prudência. “Eu não me omiti, apenas não achei que tornar público fosse o caminho. Fiz representações junto ao Ministério Público e ao estado. Procurei o Orlando  [Orlando Bastos Filhos, promotor em Sorocaba]   para mostrar que havia irregularidades em um contrato com a empresa Unihealth, que faz o gerenciamento de remédios usados no CHS. O contrato é de cerca de R$ 8,5 milhões e há sinais de irregularidades. Ouvi gente falando que eu teria ganhado R$ 20 mil nesse esquema de fraude. Por favor, qual a coerência nisso?  Procurei o MP para denunciar irregularidades em um contrato de milhões  e dizem que eu levei R$ 20 mil”, diz. “Tornar público não era o caminho, causaria sofrimento para a população. Denunciei para quem tinha o poder de fazer alguma coisa legalmente.” 
Heitor afirma que mesmo sabendo das irregularidades não tinha como simplesmente se desfazer rapidamente de fornecedores ou funcionários. “A mim cabia abrir sindicâncias ou fazer representações. O Tribunal de Contas também pegou  irregularidades. Algumas eram ocasionadas por descuidos, outras eram práticas intencionais. O que eu podia fazer, estava fazendo. Não posso simplesmente cortar uma gerenciadora de remédios. Um dia sem remédios e morre gente no hospital. Também não posso tirar funcionários do nada sem ter substitutos, porque mesmo eles tendo envolvimento com atividades irregulares, são profissionais que têm funções lá no Conjunto. Era preciso tempo para que cada coisa fosse substituída.”
Heitor alega que fraudes começaram há 2 anos  Médico afirma que problemas estruturais e de atendimento precedem fraudes e não são decorrentes diretos das acusações que são investigadas
Heitor Consani entrou no CHS aos 26 anos, ainda residente, e trabalhou na unidade por 11 anos, passando pela chefia de pronto-socorro, diretoria médica, diretoria de cirurgia e diretoria de diagnóstico até assumir o cargo de diretor-geral.
Ele afirma que os problemas estruturais e de atendimento vistos no Conjunto Hospitalar precedem as fraudes: “O CHS tinha um monte de problemas. Pacientes de muitas cidades chegam ao local, mas esses desvios causados pelas fraudes são recentes e se intensificaram há dois anos. Será que alguém realmente acredita que eu tenha criado esse esquema nos quatro meses em que estive à frente da direção-geral? Não criei e nem dei continuidade a nada. Sabia que havia tais práticas e estava tomando providências quanto a isso.”
Plantões / Heitor também deu sua justificativa para longos plantões que estão registrados em seu nome no sistema de cartão de pontos, plantões estes nos quais ele não teria trabalhado. “Eu entrava no hospital às 7h e saída às 20h todos os dias. Muitas madrugadas era chamado e ficava seis, sete horas no hospital. Isso não era um plantão, então entrava como banco de horas. Escolhíamos alguns dias para jogar várias dessas horas no sistema de controle, mas eu não recebi um único centavo por qualquer trabalho que não tenha executado. Juro por meus filhos que jamais recebi. Pelo contrário, deixei de ganhar em algumas situações. Muitos profissionais que precisam ir a reuniões em São Paulo, por exemplo, têm direito de receber pelo dia de trabalho. Eu jamais cobrei diárias do CHS quando deixava a cidade a trabalho.”
Licitação/  Heitor também falou sobre uma escuta telefônica divulgada pela imprensa na qual aparece falando com um homem não identificado a respeito de um edital de licitação para a reforma da portaria do CHS. “Aquela conversa ocorreu anos antes de eu me tornar diretor, em uma época em que eu não tinha qualquer poder administrativo e minha atividade consistia totalmente em cuidar de pacientes. Falei com um conhecido a respeito de uma oportunidade que poderia lhe interessar. A informação sobre a licitação que seria aberta para a reforma da portaria era pública e podia ser encontrada no site do governo. Só falei porque poderia lhe interessar e não há crime em indicar uma oportunidade para um conhecido.”
Médico diz que humanizou o atendimento a pacientes Heitor Consani frisou que sua intenção era a de melhorar o atendimento aos pacientes de 49 cidades que buscam socorro no Conjunto Hospitalar. Para isso, teria buscado formas de humanizar o relacionamento entre médicos e enfermeiros com doentes e seus familiares.
 “Instalei a governança, que consistia em funcionários especializados fazendo o contato direto com os pacientes e suas famílias. Essas pessoas percorriam os quartos perguntando sobre o atendimento, se a alimentação havia chegado e estava boa, tudo o que pudesse impactar na qualidade de vida do paciente enquanto ele estivesse no hospital”, afirma.
Ele também falou de seu relacionamento e preocupação com os internados. “Nunca antes de mim um médico assumiu o administrativo e continuou fazendo cirurgias. Eu não abri mão disso. Eu também sempre mantive uma política de portas abertas com pacientes e familiares. Quem quisesse, poderia reclamar diretamente comigo em minha sala.”
Afastamento preventivoHeitor Consani recebeu afastamento preventivo de suas funções à frente do Conjunto Hospitalar. A medida, publicada na página 124 da  imprensa oficinal do Estado em 18 de junho, prevê afastamento de 60 dias a contar do dia 16 de junho, quando ele  foi preso junto com outros 11 suspeitos e os casos de fraude no conjunto hospitalar vieram à tona.
A investigação
em 3 momentos
A polícia monitorou conversas telefônicas antes de prender os 12 acusados. Documentos e computadores foram apreendidos no dia das prisões. Testemunhas continuam a ser ouvidas.
Assessora divulga entrevista no fim da noite desta terça Depois de conceder entrevista ao BOM DIA, na manhã de terça (28), Heitor Consani (que é marido da proprietária da rádio Jovem Pan e do Jornal Ipanema) se arrependeu da exclusividade e solicitou que a jornalista Cida Muniz, colaborada dos veículos de imprensa da família, organizasse uma entrevista com os meios de comunicação da cidade.
Exatamente às 21h09 de terça-feira (28), Cida Muniz divulgou uma entrevista que Heitor teria concedido ao jornal Folha de S.Paulo. Essa entrevista está no site do BOM DIA desde terç a(28) à noite.
Nessas duas páginas, e nas duas seguintes, o leitor do BOM DIA lê com exclusividade o que Heitor falou em claro tom de desabafo ao jornalista Mayco Geretti que foi ao encontro dele no Mercadão Campolim, onde ele foi fazer compras.
Heitor foi visto pela colunista Jak Catena que deu a dica de sua presença no local público. A princípio ele  relutou em falar com Mayco Geretti, mas foi se soltando e falou por quase uma hora. Toda a conversa exclusiva foi  publicada nesta quarta 


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