Estado só gastou metade da verba contra inundação


Contestações na Justiça atrasaram contratação de obras neste ano

19 de dezembro de 2011 | 3h 03
O Estado de S.Paulo
Mesmo com verba em caixa, a maioria das medidas antienchente prometidas pelo governo do Estado não saiu do papel neste ano. Dados da execução orçamentária mostram que só R$ 378 milhões, dos R$ 694 milhões reservados para obras de contenção, foram empenhados em serviços até agora. O valor representa 54% do previsto.
Segundo a Secretaria de Estado de Recursos Hídricos, os trabalhos foram prejudicados porque muitas empresas que participaram dos processos de licitação ao longo do ano apresentaram contestações na Justiça, atrasando as contratações.
Da lista de ações anunciadas pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), o serviço de desassoreamento dos Rios Tietê e Pinheiros foi o que mais evoluiu. Mais de 3,2 milhões de litros cúbicos foram retirados dos leitos dos rios, de acordo com a pasta. A meta era chegar a 3,6 milhões.
Na última semana, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee) anunciou que entrará em operação, nos próximos dias, duas novas barcaças, dois novos rebocadores e uma nova plataforma para o desassoreamento do Tietê. Os equipamentos vão trabalhar no trecho localizado entre a Barragem da Penha e a foz do Rio Pinheiros e aumentarão a capacidade de transportar os sedimentos recolhidos no serviço.
Na contramão, só na última semana é que o governo iniciou o trabalho de limpeza dos piscinões de Osasco, Taboão da Serra, Embu das Artes, Diadema, Mauá, São Bernardo, Santo André e São Caetano. Os reservatórios da capital são de responsabilidade da Prefeitura.
Muros. Já a construção de muros antienchente ao longo da Marginal do Tietê e do canal de circunvalação na margem direita do Parque Ecológico do Tietê - ambos para reduzir risco de transbordamento do rio - só sairá em 2012.
No orçamento estadual do próximo ano ainda está prevista a construção de pelo menos dois piscinões: o Jaboticabal e o Guamiranga, ambos na divisa da capital com São Caetano do Sul, no ABC. Na última semana, a cidade ficou debaixo d'água e moradores precisaram ser resgatados de bote.
Para o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, tanto as medidas pontuais programadas pela Prefeitura quanto as grandes obras do Estado são necessárias, mas insuficientes. "É preciso recuperar a capacidade das cidades de reter água da chuva, com disseminação de bosques, criação de reservatórios domésticos e adoção de calçadas e pátios drenantes." / ADRIANA FERRAZ E FELIPE FRAZÃO

‘Não deixaremos o dólar chegar a R$ 1,60’

Ministro diz que governo não vai mais permitir que câmbio se valorize como antes. Objetivo é dar competitividade à indústria


Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo, e Adriana Fernandes e Ricardo Leopoldo, da Agência Estado

SÃO PAULO - O dólar mais caro é um dos fatores que deixam o ministro da Fazenda, Guido Mantega, otimista com o desempenho da economia em 2012, na medida em que favorece o crescimento da indústria nacional. O ministro descarta a possibilidade de o real voltar a se valorizar fortemente. "Muito dificilmente (o dólar) irá para R$ 1,60, porque nós não vamos deixar. Nós não vamos deixar", afirmou ao Estado. Apesar disso, ele negou que o governo tenha um piso para a taxa de câmbio.Expansão. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o PIB brasileiro terá um crescimento entre 4% e 5% em 2012
Considerando o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 3.º trimestre, que mostrou estagnação, e os primeiros dados do 4.º trimestre, que apontam economia ainda fraca, há risco de o Brasil ter uma recessão técnica neste ano (dois trimestres seguidos de PIB negativo)?
Não há nenhum risco, porque outubro foi o momento de maior desaceleração. Aliás, eu não falaria em estagnação, que é uma palavra para a atual situação dos países europeus. O Brasil é um país que continua com dinamismo, crescendo mais de 3%, um nível bastante favorável em um ano de crise internacional. Tenho dados que mostram que, em novembro e dezembro, a economia já voltou a crescer. A economia brasileira tem desempenhado bem. Passamos de uma média histórica de crescimento entre 2% e 2,5% para 4%, 4,5%. O que não significa uma trajetória linear. Há momentos de oscilação mesmo. Algo como 3% de expansão como piso para a economia é excelente.
Mas a meta era de 4,5% a 5%. Algo como 3% não decepciona?
A meta era isso mesmo, só que não contávamos com o agravamento da crise internacional. Sem esse agravamento, teríamos 4%, um número excelente para primeiro ano de governo. Sempre há um ajuste em primeiro ano de governo. Este ano sucedeu um dos melhores que tivemos, que foi 2010. Não pode correr o risco de ter problemas no abastecimento de energia elétrica, de infraestrutura. Mas é muito importante observar que o PIB é apenas um dos indicadores da economia. Tem de olhar para o emprego, que ficou bastante elevado, o padrão de vida da população, o padrão de consumo. A economia brasileira responde muito rapidamente aos estímulos e aos desestímulos, diga-se de passagem. Já estamos em trajetória de crescimento. Novembro já tem indicadores, como o da indústria automobilística, que vendeu 14,9% a mais do que em outubro, que foi o famoso fundo do poço. Diria que a economia respondeu muito bem ao que queríamos em 2011. O ajuste foi muito bem feito e agora voltamos a estimular. Juntamente com outras iniciativas, farão com que em 2012 tenhamos crescimento maior que em 2011.
Tem gente na sua equipe que já prevê um crescimento do PIB de apenas 3,5% em 2012...
Me fala quem é que eu mando embora. Você pode me dizer os nomes? Estou brincando.
O sr. geralmente prevê um número mais alto. A presidente Dilma disse que a meta de crescimento é de 4,5% a 5%, mas existem dúvidas se será possível.
A melhor analista é a presidente. Você não deve ouvir esses seus amigos do Ministério da Fazenda.
O que o sr. fará?
Em primeiro lugar, quero lembrar que, tirando momentos de crise, que são de excepcionalidade, quem mais tem acertado as previsões sou eu. Modestamente, quando eu assumi, em 2006, falei que o crescimento seria de 4%. Todo mundo dizia: imagina! Vai ser 2,5%. Pega o jornal da época e vê.
Mas o sr. tem a caneta.
Exatamente. E eu continuo com a caneta. Ela ficou até maior do que era naquele tempo. A caneta ficou mais grossa em cima da mesa. Ela realiza mais. Eu sei o que nós podemos fazer. Como a economia brasileira é saudável, ela reage bem a estímulos e tem condições de crescer com facilidade. Não está faltando crédito. Existem episódios de crédito, por causa da situação internacional, ligados ao comércio exterior. Nós temos o banco que mais faz ACC, que é o Banco do Brasil. Eu falo todo dia com o Bradesco, com o Itaú, com todo mundo. Tem crédito. Ficou um pouco mais caro? Ficou. Mas tem. Ontem (quinta-feira), o Banco Central fez o tira-teima e ofereceu leilão de dólares. O pessoal queria receber prêmio. Ah!
Foi um teste?
Para ver se o mercado precisa.
No dia anterior da ação do BC, o sr. disse ao ‘Estado’ que o BC poderia fazer. Foi combinado com o BC?
Foi mera coincidência (risos). Você acha que a gente não conversa? Tem uma ideia errada do que é uma equipe econômica. Eu converso todo o dia com o (Alexandre) Tombini (presidente do BC). Principalmente em momentos de crise, temos de conversar para vigiar o que está acontecendo. Na crise, e essa é financeira, o que pode ocorrer é uma escassez de crédito.
Mas o PIB de 2012 vai crescer para 4% ou para 5%?
O PIB vai crescer de 4% a 5%. Você não está me deixando falar dos impulsionadores. Os impulsionadores são, em primeiro lugar, o crédito. Depois, tem o aumento do salário mínimo, que vai injetar R$ 94 bilhões na economia. Você tem também o câmbio mais favorável para a indústria brasileira.
O que é câmbio mais favorável?
Hoje está R$ 1,85.
Vai ficar aí?
Não sei, porque o câmbio é flutuante. Mas nós temos os instrumentos para não deixar valorizar o real.
O real vai valorizar mais?
Todo dia tem flutuação. O que eu estou certo é que o câmbio será mais favorável.
O câmbio é flutuante. Pode ir a R$ 1,60...
Dificilmente irá para R$ 1,60, porque nós não vamos deixar. Nós não vamos deixar.
Como, ministro?
Temos hoje, por exemplo, a intervenção no mercado de derivativos. Esse mercado é onde se forma o preço do dólar. Não é no spot (à vista). E hoje nós pegamos na veia o mercado. Aquele 1% parece pequeno, mas não é. Ele (investidor) faz uma transação de R$ 1 bilhão, mas recolhe margem de 10% e sobre esses 10% se dá o rendimento dele. É 1% sobre R$ 1 bilhão, que é 10% sobre os 10%. Nós podemos levar para 20%. O mercado já sabe: se brincar, vai levar.
O sr. falou que o governo não vai deixar o dólar ir para R$ 1,60. Isso significa que o governo tem um piso para o câmbio?
Não. Não tem piso nenhum. Nem piso nem teto. O que estou dizendo é que não vamos permitir que o câmbio se valorize como vinha se valorizando. A guerra cambial é uma realidade que se intensifica por causa da crise internacional. Todos os países estão desesperados para exportar mais. E usam todas as armas que têm. E arma cambial é a principal. É por isso que nós tomamos várias medidas no campo cambial e continuaremos tomando.
E em relação aos itens que vão garantir crescimento maior no ano que vem?
Só para completar. Salário mínimo, crédito, câmbio, taxa de juros decrescentes, PAC 2, programa Minha Casa, Minha Vida, investimentos.
A inflação continuará crescendo em 2012?
Não. Só pudemos nos dar ao luxo de flexibilizar a política monetária porque a inflação caiu.
Acabou o risco de inflação?
O risco da inflação está muito mais moderado. Nunca vamos descuidar da inflação.
A inflação vai convergir para o centro da meta no ano que vem?
O Banco Central é quem decide qual o período de convergência para a meta. O importante é que esteja caindo.
O euro sobrevive?
É uma pergunta muito difícil de responder. Talvez alguns países saiam do euro. Tem um núcleo que vai sobreviver.
Analistas credenciados, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, têm apontado que já ocorre um esgotamento do modelo de crescimento do Brasil.
Com todo o respeito ao Luiz Carlos Mendonça de Barros, que é um hábil economista, mas tem se equivocado muito ultimamente. Quando foi governo, o desempenho não foi lá aquelas coisas. É mais fácil dar palpite e depois modificar a sua posição. O que estamos colhendo é o resultado da mudança do modelo econômico, que trouxe dinamismo à economia. Mas isso não quer dizer que tudo está feito. A economia exige reformas permanentes, especialmente num cenário de crise, no qual a concorrência se agudiza, todo mundo quer reduzir custos, impostos. Fizemos várias reformas, como no mercado imobiliário e no setor de energia elétrica. E estamos fazendo a todo o momento. Estamos criando o Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público. Já alcançamos um dinamismo que não tínhamos e é muito superior à maioria dos países. Tanto que o Brasil é a sexta economia do mundo.
Mas em PIB per capita está no perto do 70º lugar...
Sim, mas o da China é quanto? O importante é avançar. Nosso PIB per capita há 7 ou 8 anos, era um terço do PIB de hoje. Estava em US$ 3,5 mil. Atualmente, é de US$ 12 mil. Evidentemente, temos de chegar a US$ 40 mil. Por isso dizemos que é incessante. Mas uma coisa é dizer que esse modelo está falido e paralisado, que é o que falam as más intenções. Acho até que há uma pontinha de inveja de quem não conseguiu fazer e tem de reconhecer.
No ano que vem, o governo vai conseguir um superávit primário cheio, apesar das perspectivas menos favoráveis de arrecadação em 2012?
Claro que vamos cumprir. A receita caiu um mês. No mês que vem, vai subir porque a atividade em novembro está subindo.

18 de dezembro de 2011 às 16:17

Alberto Tamer: O Brasil está sozinho nesta crise

por Alberto Tamer, em O Estado de S. Paulo
O FMI elevou o tom e lançou um desafio. A crise – “que se desdobra e aumenta” – não pode ser resolvida por um grupo de países, mas por todos em todas as regiões do mundo. Todos serão atingidos. O cenário é cada vez mais sombrio. Ou se aplica uma ação coletiva ou teremos um quadro similar ao dos anos 30. Só resta um caminho: um acordo da comunidade internacional, canalizando recursos via FMI, que não tem recursos suficientes para salvar a Europa com a urgência que se agrava.
30 bilhões só em janeiro. Não contem com o plano aprovado pela União Europeia que prevê em princípio 200 bilhões para o FMI em 2012. A dívida grega a ser vencida neste ano é de mais de 300 bilhões, 80 bilhões só em janeiro, mais 130 bilhões cuja liberação está sendo posta em dúvida pelo FMI, BCE e governos europeus porque o novo governo não cumpriu as metas de austeridade fiscal. O mesmo está sendo imposto à Itália. Os bancos europeus não têm condições de rolar essa dívida. O BCE os estimula e oferece empréstimos para essas operações, mas ao mesmo tempo não aumenta a compra dos títulos da Itália e da Espanha. Por que, em vez de emprestar, não compra diretamente esses papéis? Porque a Alemanha não deixa. Não é função do BCE, afirma Merkel, e pede socorro ao FMI… que pede socorro aos outros países… que, agora, corre para o G-20 …que continua dizendo não. O susto da Lagarde não assustou muito. Parece que sua credibilidade está em baixa, porque, como ex-ministra das Finanças da França, se comprometeu muito com o que está acontecendo. Em uma frase, o alerta do FMI a todos os países é “não contem com a União Europeia para financiar a dívida soberana e muito menos para crescer.”
Brasil responde. Parece que o governo brasileiro entendeu o recado. “Nós não contamos com o auxílio de ninguém para enfrentar a crise internacional”, afirmou a presidente Dilma em café da manhã com os jornalistas no Alvorada. “Contamos com o que temos de força, o mercado consumidor. É hora de fortalecê-lo”, acrescentou. O país está mais preparado que em 2008, quando a crise foi maior. “O crédito que era de R$ 400 bilhões, passou para quase R$ 1,94 trilhão.” E há mais recursos próprios que podem ser usados para financiar a atividade econômica e conseguir um crescimento de 4,5% a 5% em 2012, afirmou. Com a União Europeia ou sem ela.
Os dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o comércio com a União Europeia representou 20,7% das vendas brasileiras, entre janeiro e novembro, mas ainda não foi afetado pela crise. A exportações totalizaram US$ 38,5 bilhões, o que representa uma alta de 25,8% sobre igual período do ano anterior. É o terceiro mercado, depois da Ásia, América Latina e Caribe (leia-se Estados Unidos). O superávit comercial com a Europa é de US$ 6,1 bilhões, quase 50% mais até novembro do ano passado. Há sinais de recuo. Eles continuam importando 51% de produtos básicos, decorrentes de commodities. Grande parte, alimentos.
Há sinais de recuo, mas também de aumento das exportações para outros países. Aqui um novo realismo toma conta do Itamaraty. O ministro Antonio Patriota aproveitou a reunião da OMC, em Genebra, e reuniu-se isoladamente com 15 governos europeus para oferecer oportunidade de negócios com o Brasil e exportar mais. Sinal de pragmatismo do novo ministro, que recebeu a pesada herança de indiferença comercial de Celso Amorim, que impediu qualquer acordo isolado com outros países fora da OMC. Aquela história de Doha …
Podem gritar que não escuto. Parece que é essa a nova política comercial do Brasil. Vocês se defendem, e por que eu não? Foi o que deu a entender o ministro na reunião de Genebra. Não é hora em falar em multilateralismo quando, em meio à desaceleração mundial, todos se defendem desvalorizando suas moedas. Na área comercial e financeira, é cada um por si. Veja a Lagarde pedindo socorro que ninguém ouve para a Europa. Tempos sombrios estão para vir e a presidente está certa. O Brasil não conta com ninguém para enfrentar a crise.
 

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