Número de flanelinhas dobra com Natal no Ibirapuera


CRISTIANE BOMFIM
Oito da noite. Todas as vagas de estacionamento na Praça Túlio Fontoura, em frente à árvore de Natal do Ibirapuera, na zona sul da capital, estão ocupadas. Motoristas que chegam para assistir ao espetáculo de luzes na fonte multimídia do parque são abordados por nada menos que 15 flanelinhas.
“R$ 10 pra estacionar, queridão. Aproveita que é a última vaga e o show já vai começar”, diz um guardador. Em outra região da cidade, no entorno do Mercado Municipal, centro, o preço cobrado para estacionar na rua, sobre calçadas e até em lugares proibidos varia entre R$ 5 e R$ 10. Quanto mais perto da entrada do mercadão, mais caro.
Por causa das festas de fim de ano e do consequente aumento de visitantes no Parque do Ibirapuera, o número de guardadores de carros quase dobrou. “Normalmente somos em oito. Reforçamos a equipe neste mês em mais sete pessoas para dar conta do serviço”, conta um dos flanelinhas que considera justo o preço cobrado por uma vaga de carro em lugar público.
“A gente faz a segurança do local, evita que o carro seja roubado. Estacionamento é muito mais caro”, diz o homem que abordou o carro da reportagem oferecendo uma vaga na rua.
Durante a noite, na esquina da praça com a Rua Abílio Soares, um policial militar apoiado na viatura faz a segurança da Assembleia Legislativa. A travessia de pedestres e a passagem dos carros na Avenida Pedro Álvares Cabral é monitorada por um agente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A presença deles não inibem os flanelinhas.
“É um absurdo. O flanelinha chegou me ameaçando. Disse que eu tinha roubado a vaga dele e que tinha que pagar para parar. Eu disse que pagaria depois e ele não gostou da resposta. E a polícia faz que não vê”, reclamou o advogado Wagner Santiago, de 44 anos. Morador da zona leste, ele chegou às 20h no Ibirapuera para ver a árvore de Natal. Ele encontrou a vaga antes do flanelinha, que saiu correndo em sua direção assim que desligou o motor.
A abordagem é quase sempre a mesma. Os guardadores de carro entram na frente do veículo gritando: “Vai estacionar? Vai estacionar?”. Eles indicam as vagas com os braços e acompanham os motoristas. Dão dicas de como estacionar melhor e, por fim, cobram pela vaga. Nos fins de semana, e dias mais próximos do Natal, o preço sobe “porque a procura é maior”, diz outro flanelinha.
Para evitar a ação dos guardadores, o coordenador de marketing Paulo Rogério de Lima, de 29 anos, preferiu deixar o carro em casa, no Tatuapé, na zona leste, e ir ao Ibirapuera de metrô e ônibus, com a mulher, a filha e a sogra. “Nesta época do ano é impraticável vir para cá de carro. Além do trânsito, a gente tem que aguentar esses caras querendo tirar vantagem”, afirma Rogério.
Extorsão
O capitão Cleodato Moisés do Nascimento, porta voz do Comando de Policiamento da Capital, da PM, afirma que pedir dinheiro para olhar veículos não é crime. “O crime é a extorsão, é o flanelinha obrigar o motorista a pagar ou não deixá-lo estacionar na vaga.” O problema, segundo ele, é comprovar a prática da extorsão.
“O motorista tem que chamar a polícia e ir para a delegacia registrar a queixa. E é importante que tenha testemunhas. Mas quem vai deixar de assistir ao espetáculo da fonte para ir à delegacia? A Secretaria de Segurança Urbana afirma que a Guarda Civil Metropolitana não tem responsabilidade de fiscalizar os flanelinhas.

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