Demóstenes avisou Cachoeira de ação contra caça-níqueis


Gravações da PF mostram senador alertando empresário sobre operação conjunta do Ministério Público e polícia

Investigações também apontam envolvimento de delegado da Polícia Federal; acusados não se manifestaramLEANDRO COLON
FERNANDO MELLO
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA
Relatório da Polícia Federal mostra que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) informava com antecedência o empresário Carlinhos Cachoeira de operações a serem realizadas pelo Ministério Público contra o grupo do contraventor.
Segundo o inquérito que está no Supremo Tribunal Federal, às 23h11 do dia 20 de junho de 2011 o senador, que é procurador de Justiça, avisou Cachoeira de uma ação de combate ao jogo ilegal: "Eu fui informado é que o MP [Ministério Público] Federal aí em Goiás vai fazer operação conjunto com o MP Estadual, é, em cima de caça-níquel viu? Parece que tem, eles tinham uma investigação independente, independente mesmo daquela outra que foi pra Justiça Federal, certamente eles vão usar a PF né, então você fica de olho aí".
"Quem te falou?", perguntou Cachoeira. "O de sempre", disse o senador, que acrescenta: "Bom ele falou, eu num sabia que eles tinham investigação, então ele num sabe o tamanho que é né, chamaram pra fazer operação, possivelmente eles já tem tudo pronto né."
O procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres, é irmão do senador. Ele nega saber de irregularidades e diz ter rompido com o senador por conta do caso Cachoeira.
Três minutos depois, Cachoeira e Demóstenes voltam a falar pelo telefone, quando o senador disse: "Turma de baixo informou que foi pedido pra fazer uma operação conjunta". Encerrada a conversa, Cachoeira telefonou ao delegado da PF Fernando Byron, apontado pela Operação Monte Carlo como informante do esquema ilegal.
O empresário de jogos então repassou ao delegado a informação que recebera de Demóstenes: "O MP Federal avisou o Estadual que vai ter uma operação, cê tá sabendo?". "Não, não, vou ver", respondeu o delegado.
Cachoeira então deu mais detalhes e indaga Byron: "É nessa área sim, queria que você desse uma olhada, não é nada que você pediu, não?". O delegado, que seria informante do esquema, acalmou o empresário: "É reunião de rotina mesmo, não de operacionalidade".
Segundo a investigação, Fernando Byron, que trabalhava em Goiânia, era consultado por Cachoeira toda a semana para saber sobre as atividades da PF na região.
As gravações mostram ainda que o grupo de Cachoeira soube, ainda em janeiro, que poderia haver operação no Distrito Federal e em Goiás.
Dias antes da Monte Carlo, deflagrada no dia 29 de fevereiro, Cachoeira passou a acionar o sargento da Aeronáutica, Idalberto Araújo, o Dadá, para ter informações sobre a operação contra seu grupo. Apontado como araponga do esquema, Dadá o teria tranquilizado.
Por causa das ligações com Cachoeira, Demóstenes Torres sofre processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado. Uma CPI foi instalada no Congresso para investigar o caso. Cachoeira está preso em Brasília, no prédio da Papuda.

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