Para relator da CPI, Perillo mentiu sobre relação com Cachoeira


 

Camila Campanerut

O relator da CPI Mista (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga o contraventor Carlos Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), tentou na reunião desta terça-feira (26) demonstrar a sua tese, que também é defendida pela Polícia Federal, de que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vendeu sua casa para Cachoeira.
Ao final da reunião da CPI, Odair Cunha afirmou a jornalistas que acredita que o governador Marconi Perillo mentiu aos parlamentares da comissão sobre a relação com o bicheiro. Ao ser questionado sobre se Perillo mentiu, Cunha disse: "Com certeza. Está evidente que a história foi uma história montada. A história da casa é para negar a relação do senhor governador com o senhor  Carlos Cachoeira".
 

Foto 71 de 71 - 26.jun.2012 - Lúcio Fiuza Gouthier, testemunha envolvida na venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), em sessão da CPI do Cachoeira. Ele é um dos que conseguiu no STF o direito de não responder às perguntas dos parlamentares na comissão Mais Alan Marques/Folhapress
“Não tem problema o governador Marconi Perillo vender a casa para Carlos Cachoeira.Tem problema, sim, na negativa da relação. Esta organização do senhor Carlos Cachoeira se aproveitou dos meios de financiamento de campanha para ocupar o Estado de Goiás”, afirmou Odair Cunha.  
E continuou: “O governo Marconi Perillo, no mínimo, ficou vítima ou foi leniente, conivente com esta organização criminosa que se apoderou do aparelho de Estado”.
Nas contas de Cunha, a casa foi comprada em fevereiro de 2011; em março, Cachoeira se arrependeu, mas, ainda assim, pediu que fosse decorada em maio do ano passado para ser ocupada temporariamente pela mulher do bicheiro e, no mês de julho, ele resolve vender esta casa para Walter Paulo. 
“O tempo inteiro o senhor Carlos Cachoeira tenta esconder de quem ele comprou a casa. Tem áudio inclusive que ele manda rasgar o contrato para não ficar evidenciado”, afirmou Cunha (veja boxe abaixo).

Reprodução de trecho de um diálogo interceptado pela Polícia Federal

Cachoeira:Oi
Andressa:Deixa eu te perguntar, o Adriano seu cunhado sabe da casa?
Cachoeira:Uai, deve saber, uai! Ele pediu ... a irmã deve ter falado.
Andressa:Não, a irmã deve ter falado não. Ele dá os detalhes aqui no seu email sobre o pagamento e o documento.
Cachoeira:Não é porque eu mandei tirar... Depois eu te explico pessoalmente. Não quero meu nome não, por causa dos depósitos que foram feitos, entendeu? Eu tinha botado o meu nome. E daí, saiu de uma conta, e eu pedi para passar no nome do Deca, da empresa.
Andressa:Passar o quê?
Cachoeira:Passar o contrato que eu tenho para rasgar urgentemente o contrato que eu tinha no meu nome. Não posso ter vínculo daquela conta com esse contrato, entendeu?
Andressa:Contrato de compra cê fala?
Cachoeira:Exatamente, estava no meu nome. E o dinheiro que eu tava pegando vinha de uma conta, entendeu?
Andressa:Entendi. Mas e quando você for escriturar? Porque eu quero que cê passe ela no meu nome, como você vai fazer?
Cachoeira:Escritura é outra coisa, tá. Eu pedi para rasgar aquele contrato meu lá para pôr no nome da empresa que a Deca têm.
Andressa:Não, tudo bem, estou perguntando como você quer fazer? Você vai ter de contar isso para ele também?
Cachoeira:Não, não tem nada disso. Isso é só o contrato do conteúdo que ele tinha assinado.
  • Díalogo no dia 5 maio de 2011
De acordo com o relatório da Polícia Federal, o homem indicado na conversa de Cachoeira como Deca seria André Teixeira Jorge, apontado como “laranja” de Cachoeira, que era motorista de Claudio Abreu, ex-diretor regional da Delta Centro-Oeste.Assim como Abreu, ele também foi afastado da empresa.

Segundo os dados bancários encaminhados à CPI da Vitapan – indústria farmacêutica de Cachoeira – pagou a André Teixeira Jorge somas que variavam de R$ 20 mil a R$ 60 mil, de 2002 a 2006.
À CPI, Perillo informou que a casa foi paga por cheques da Excitant Indústria e Comércio e levou cópias dos três cheques aos integrantes da comissão. Segundo a Polícia Federal, a Excitant pertence a uma cunhada de Cachoeira e recebeu depósitos da Alberto e Pantoja, empresa fantasma que abasteceria contas do grupo de Cachoeira.
Em depoimento, o governador goiano disse que não se ateve à origem dos cheques e a venda foi feita ao ex-vereador pelo PSDB, Wladimir Garcez, que, por falta de dinheiro, repassou a casa ao empresário Walter Paulo Santiago, que disse que pagou a casa em dinheiro. 
“Acertamos o valor de R$ 1,4 milhão, que se daria em três parcelas, março, abril e maio (de 2011). Todos os cheques foram depositados e compensados, na mais absoluta prova de boa fé", disse o governador à CPI.

Críticas da oposição

O enfoque do relator na questão da casa causou polêmica e gerou duras críticas da oposição, em especial do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). O parlamentar defendeu que se priorizou pessoas com pouca relevância para o caso e apontou o desequilíbrio em convidar sete pessoas ligadas a Perillo e apenas três ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), para serem ouvidas na CPI. 
Mais uma vez, Sampaio também fomentou a disputa entre PT e PSDB sobre o encaminhamento dos trabalhos da CPI, indicando que se pode prejudicar um ou outro partido pela divulgação das relações que integrantes das legendas que tiveram ligações com as atividades ilegais comandadas por Cachoeira.
“O relator perguntar onde se compra o papel de parede, sem se perceber que o papel que está caindo mal, não é o papel de parede da reforma, mas o papel de relator desta CPI que ele exerce, ele esta depreciando esta CPI”, avaliou Sampaio.
O relator se defendeu dizendo que não ouviu do mesmo parlamentar críticas pelo silêncio dos outros dois convidados e destacou que os depoimentos como o do arquiteto ajudam a descobrir todos os envolvidos com o contraventor.
Durante a reunião da CPI, também houve novamente pressão sobre o presidente da CPI, Vital do Rêgo, e o relator do caso para que se convoque o ex-presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish, para explicar as falas de que comprava políticos e para detalhar as relações da empresa com Cachoeira.

Depoimentos

Dos três depoimentos previstos para esta terça-feira (26), apenas uma das pessoas resolveu falar aos parlamentares, o arquiteto Alexandre Milhomen, contratado pela mulher de Cachoeira para decorar a casa, a mesma em que o contraventor foi encontrado quando foi preso em 29 de fevereiro na operação da Polícia Federal.
Os dois outros convidados Lúcio Fiúza, apontado como intermediário de Perillo na venda da casa, e Écio Antônio Ribeiro, sócio da Mestra Administração, empresa que pagou pela residência, ficaram em silêncio durante a sessão e foram dispensados. Eles conseguiram liminares no STF (Supremo Tribunal Federal), que permitiu que permanecessem calados para não se autoincriminar.
No breve depoimento à CPI, o arquiteto confirmou que foi contratado pela mulher de Cachoeira, mas não sabia que ela era mulher dele, a quem conhecia apenas como “Sr. Carlos”. Segundo o arquiteto, o tratamento com Andressa por “assessora” em conversas telefônicas com ela seria feito a pedido da cliente, que pediu sigilo.
Milhomen afirmou ter recebido cinco parcelas de R$ 10 mil, mas disse que não observou de onde vinham os pagamentos. No entanto, um deles se verificou foi feito pela empresa Alberto e Pantoja no valor de R$ 10 mil. A informação foi obtida por meio da quebra do sigilo bancário da empresa, que seria uma das fantasmas que abastecia as contas do grupo de Cachoeira.

Presidente da CPI se defende

Logo no início da reunião, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), informou que pediu a Polícia Federal e dos procuradores responsáveis pelas investigações da atuação de Cachoeira encaminhe para ele as informações relativas ao seu funcionário.
Reportagem do Jornal O Globo revelou, por meio de interceptações telefônicas da PF, que o assessor de Vital, Rui Brito pedido dinheiro emprestado a Francisco Marcelo Queiroga, irmão do braço-direito de Cachoeira, José Olímpio Queiroga.
O senador disse que conversou com seu funcionário que lhe garantiu que relação com Francisco Marcelo Queiroga “é pessoal“ e que não tinha nenhuma relação com Cachoeira ou teria função de qualquer tipo de favorecimento.

Próxima reunião

Nesta quarta-feira (27), estão previstos os depoimentos de outras pessoas ligadas a Perillo São elas: o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que acusou o governador de pagar gastos de campanha com dinheiro de Cachoeira; a ex-chefe de gabinete de Perillo, Eliane Pinheiro, suspeita de repassar informações policiais a Cachoeira e o tesoureiro da campanha tucana em 2010 e presidente da Agetop (Agência Goiana de Transportes e Obras), Jayme Rincón, acusado de receber R$ 600 mil de uma empresa do contraventor.
Está marcada para o dia 5 de julho uma reunião para analisar os nomes dos novos convocados para depor à CPI. Entre eles, está o de Fernando Cavendish e o ex-diretor do Dnit, Luís Antônio Pagot.

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