Colômbia exclui anistia de diálogo com Farc


Guerrilheiros e Estado responderão por crimes cometidos em conflito de meio século


Guilherme Russo, O Estado de S. Paulo
Apesar de o processo de paz entre Bogotá e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciado na segunda-feira pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, prever concessões como não extraditar aos EUA insurgentes acusados de narcotráfico e terrorismo, delitos contra os direitos humanos cometidos por ambos os lados no mais antigo conflito em atividade na América Latina não deverão ser anistiados pelo possível acordo.
Presidente da Colômbia anuncia negociação com as Farc - John Vizcaino/Reuters
John Vizcaino/Reuters
Presidente da Colômbia anuncia negociação com as Farc
O presidente do Senado colombiano, Roy Barreras, afirmou nesta terça-feira, 28, ao Congresso do país que "os máximos responsáveis pelos crimes mais atrozes, contra a humanidade, deverão pagar", referindo-se aos guerrilheiros - de acordo com informações do jornal online El Espectador.
O analista político Carlos Medina Gallego, historiador do Centro de Investigação de Segurança e Democracia da Universidade Nacional da Colômbia, disse ao Estado que teve acesso à "agenda restrita" de negociação que deverá começar a ser posta em prática em outubro, em Oslo, capital da Noruega, e confirmou que "não há anistias" previstas para nenhum dos lados.
Segundo Medina, a aproximação entre funcionários do governo colombiano e integrantes das Farc e do Exército de Libertação Nacional (ELN), o segundo maior grupo guerrilheiro do país, ocorre "há 12 ou 14 meses" e deverá ainda se estender a outros movimentos insurgentes. A emissora de TV venezuelana Telesur afirmou que, em maio, rebeldes - entre eles "El Médico" Mauricio Jaramillo, um dos mais graduados revolucionários do país - e representantes de Bogotá sentaram-se à mesa de negociação em Cuba.
Pauta
Medina afirmou que a agenda de negociação tem seis pontos. "O primeiro é manter como prioridade a garantia de uma reforma agrária no país - que é um dos principais motivos da guerra (iniciada nos anos 60)." De acordo com o especialista, o segundo tema de discussão implicará a transição de rebeldes da insurgência à política, para "a inclusão dos atuais movimentos guerrilheiros na democracia colombiana".
O terceiro ponto, segundo Medina, "trata de responsabilizar criminalmente tanto agentes do Estado quanto da guerrilha por afrontas contra os direitos humanos cometidas durante o conflito" que, estima-se, deixou mais de 60 mil mortos. O analista disse que padrões internacionais que definem crimes de guerra e contra a humanidade deverão ser aplicados em futuros indiciamentos.
De acordo com Medina, a deposição de armas, por parte dos insurgentes, será tema do quarto ponto da negociação. "Entregar as armas significaria uma derrota da guerrilha."
O historiador afirmou que o quinto tema de negociação tratará do narcotráfico - uma das principais atividades de financiamento da insurgência - nas regiões em que as Farc atuam. O sexto ponto deverá ser a inclusão nas forças de segurança oficiais de integrantes da guerrilha, também nos locais onde os rebeldes têm suas bases.
Além de Cuba e Noruega, Nicarágua e Venezuela atuam como observadores da negociação - segundo Medina, desde o início da conversa. Medina afirmou que o encontro em Oslo está previsto para o dia 5 de outubro e a negociação deverá continuar em Havana.
"Esse anúncio enche o país de confiança. Há muita esperança, entre a população, a Igreja e os movimentos sociais de que, finalmente, esse conflito será solucionado, disse Medina, relatando o "clima de otimismo" que viu na Colômbia após a divulgação da notícia. 

Postar um comentário

0 Comentários