Mortos na Grande SP tiveram antecedentes consultados na capital



Folha de São Paulo

Investigações feitas pela Polícia Civil mostram que as consultas de antecedentes criminais de vítimas de homicídios na Grande São Paulo neste ano aconteceram em batalhões e até cidades diferentes do local das mortes.

Segundo a Folha apurou com investigadores, há casos em que os assassinatos aconteceram em Osasco e Guarulhos, mas as consultas às fichas das vítimas foram feitas em prédios da PM na capital.
A descoberta, segundo a investigação, mostra possível articulação entre policiais envolvidos em mortes e que a troca de consultas sobre antecedentes de vítimas era disseminada por batalhões.
Anteontem, após a posse do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, o chefe da Polícia Civil, Marcos Carneiro Lima, revelou a existência dessa prática e que isso, na opinião dele, era "muito emblemático" e preocupante.
Nos últimos meses, a região metropolitana tem enfrentado uma onda de violência. Em um mês, 280 pessoas foram assassinadas na Grande SP -mais de nove por dia.
Para quatro delegados consultados pela reportagem, que pediram anonimato, as checagens prévias demonstram certa organização entre policiais que estariam matando desafetos ou pessoas com algum passado criminoso.
"Esses policiais acham que estão fazendo um bem à sociedade, quando na verdade estão cometendo homicídios friamente", disse um delegado que atua nesses casos.
Ontem, Carneiro afirmou que não poderia discriminar em quais casos específicos a consulta foi feita porque isso atrapalharia as investigações.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, procurados por meio de suas assessorias, não comentaram.
Em nota, a secretaria diz que todos os assassinatos são investigados pela Polícia Civil, "que considera todas as hipóteses na apuração da motivação e autoria". Afirma, ainda, que "não tolera desvios de conduta de policiais".
HISTÓRICO
A prática de policiais consultarem antecedentes antes de matar foi constatada em 2007, nas mortes dos ex-presidiários Charles Wagner Felício e Cleiton de Souza, e em 2010, quando PMs da Rota mataram Fábio Fernandes da Silva, o Vampirinho, suposto membro da facção PCC.
Em 2008, nas investigações sobre PMs que mataram o coronel José Hermínio Rodrigues na zona norte, a polícia descobriu grupo de extermínio formado por policiais que também adotava a prática.
Colaborou JOSMAR JOZINO, do "Agora"

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