Incidência de raios triplica em um ano


De acordo com o Inpe, o município foi atingido por 3.207 raios durante 2012 -Por: Arquivo JCS/Erick Pinheiro


Jornal Cruzeiro do Sul
Rosimeire Silva
rosimeire.silva@jcruzeiro.com.br

A incidência de raios em Sorocaba triplicou no período de um ano. De acordo com levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 2012 o município foi atingido por 3.207 raios, sendo que no ano anterior, foram registradas 1.213 descargas. Em 2013, a tendência é de que o número de ocorrências se mantenha em alta. Até ontem, foram registrados na cidade um total de 619 raios, enquanto no mesmo período do ano passado foram 303 descargas.

Embora a equipe técnica do Elat não aponte uma razão específica para esse aumento no número de ocorrências no município, pesquisas sobre o fenômeno realizadas pelo grupo demonstram que os grandes centros urbanos, com mais de 200 mil habitantes, tendem a intensificar a ocorrência de tempestades e, consequentemente, de raios, em função das chamadas ilhas de calor, que são provocadas pela concentração de poluição, construções e a aumento da frota de veículos. 

Segundo o último ranking de incidência de raios, divulgado no início deste ano pelo Elat, em Sorocaba caem por ano, em média, oito raios por quilômetro quadrado. Esse número está acima do média do país, que é de 7 raios por quilômetro quadrado, mas abaixo da média do Estado, que é de 9,29. No ranking do Estado, o município ocupa o 325º lugar em incidência de raios, de um toral de 645 cidades. Já no ranking nacional está na posição 1.856, entre os 5.565 municípios brasileiros.

Essa medição é realizada pelo Elat a partir do cálculo feito com base na incidência total de raios e a área do município. O levantamento é realizado com base nos dados colhidos de satélites correspondente ao período de 2000 a 2010. Segundo avaliação da equipe técnica do Elat, a incidência na região de Sorocaba está próxima da registrada em algumas outras áreas do estado, como a Baixada Santista e Vale do Paraíba, mas ainda é menor que o verificado na capital paulista, que é de dez raios por quilômetro quadrado no ano. A região Sul do Estado também apresenta grande incidência, principalmente por causa da formação de tempestades na região central do continente, que se deslocam até a região Sudeste, atingindo principalmente São Paulo e a sua costa litorânea.

A previsão é que a médio e longo prazo algumas regiões apresentem um aumento na incidência de raios, provocado pelo aumento de temperatura global aliada ao aumento de temperatura local (ilhas de calor). Na região Sudeste, particularmente, a estimativa é de que em algumas décadas (por volta de 60 anos), ocorra o dobro de tempestades em toda a região e até o triplo nas cidades litorâneas.

O Brasil é líder mundial na incidência de raios. Por ano, o país é atingido por cerca de 57, 8 milhões de descargas atmosféricas. Em segundo lugar vem a República Democrática do Congo (43,2 milhões de raios por ano), seguido dos Estados Unidos (35 milhões de raios por ano).
 
Mortes 
O estudo do Elat demonstrou que entre o período de 2000 a 2012, os raios provocaram a morte de mais de 1.500 pessoas em todo o país, sendo que o Estado de São Paulo é o líder nacional em ocorrências, com mais de 260 mortes neste período. Nos municípios da região foram 7 mortes, sendo uma delas em Sorocaba. 

A ação preventiva, a partir da divulgação de informações sobre proteção, é apontada pelo Elat como a melhor medida para reduzir o número de mortes por raios. Isso porque o levantamento demonstra que pelo menos 80% das vítimas desse tipo de ocorrência morrem em circunstâncias que poderiam ser evitadas. O maior número de mortes por raios no Brasil ocorre na zona rural, devido a permanência os trabalhadores no campo durante as tempestades. 

Cuidados 
Para evitar acidentes com raios, orientação do Elat é para que durante as tempestades não se permaneça próximo de nenhum veículo metalizado, embaixo de árvores ou próximo a cercas. Também se deve evitar andar de moto ou bicicleta ou caminhar em campo aberto, como em praias, ou mesmo se abrigar em espaços abertos, como sacadas, varandas ou deques. 

Outro risco durante as tempestades é estar próximo a objetos que conduzem eletricidade, como telefones com fio, celulares conectados ao carregador e também objetos metálicos grandes, como o chuveiro. O lugar mais seguro para aguardar uma tempestade é dentro de um veículo fechado, que serve como um invólucro isolado pelas pneus de borracha. Mas é importante tomar cuidado para não encostar na lataria que é condutora de eletricidade.

Descargas podem danificar aparelhos 

Além dos riscos de acidentes, os raios também podem ser sinônimo de prejuízo. Isso porque ao atingir a rede elétrica ou cabeamento instalados nas construções, eles podem funcionar como condutores da descarga elétrica e qualquer equipamento que esteja ligado a ela por ser danificado. A professora Maria Elisabete de Moraes, 48 anos, disse que já perdeu a conta do número de equipamentos queimados em sua sua por causa de raios. Telefones sem fio, televisor, fax, geladeira e até computador estão nesta lista.

Moradora do Jardim São Guilherme, ela conta que os raios são muito comuns nesta região, tanto que os seus vizinhos também convivem com o mesmo problema. "É só o céu começar a escurecer, que a gente começa a tirar tudo da tomada". Apesar dessa precaução, adotada depois de tanto prejuízo com os danos em aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, ela teve um outro incidência em junho do ano passado, quando o computador do seu filho teve alguns componentes queimados por um raio que caiu na rede elétrica. "Quando começou a formar o temporal eu comecei a tirar tudo da tomada, mas quando cheguei no quarto dele foi tarde. Caiu um raio muito forte, deu um estrondo e o computador não ligou mais". 

Cansada de tanto prejuízo, a professora passou a pedir indenização pelo dano à concessionária de energia elétrica (CPFL), que cobriu os gastos com o conserto. "Leva um tempo para ter o dinheiro, pois tem que provar o estrago e fazer orçamentos para conserto, mas valeu a pena, pelos menos não fiquei de novo no prejuízo". A mesma medida foi adotada por seu vizinho, o motorista Paulo Roberto, 43 anos, que teve ainda mais perdas. A descarga elétrica danificou dois computadores, a máquina de lavar, o videogame, o decodificador da TV a cabo, ventilador de teto, além de lâmpadas e interruptores. Todos os estragos somaram mais de R$ 3 mil. 

Para evitar tamanho prejuízo, ele também entrou com pedido de indenização na CPFL e depois de 90 dias conseguir ser ressarcido em R$ 2,7 mil. "Não cobriu todos os gastos, mas pelo menos não tive que arcar com tudo". Agora, ele e sua família decidiram radicalizar. Ele tirou a antena de televisão da casa que poderia servir de condutor, e quando chega uma tempestade desliga todos disjuntores. "A gente tenta tomar todas as precauções, mas quando o tempo começa a fechar ficamos preocupados, pois nem sempre estamos em casa para desligar tudo". diz.

Para as empresas que trabalham com o conserto de eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos os danos provocados por raios ajudam a movimentar o negócio na época de maior incidência de tempestades. O sócio de uma loja do setor, José Augusto Camargo, diz que nos períodos em que acontecem muitos raios ele chega a receber de 10 a 20 equipamentos para fazer o orçamento para conserto, sendo que a maior parte deles é de televisores. "Nem sempre compensa consertar, se o preço for maior que 20% do custo do aparelho não vale a pena". 

Ressarcimento 
A CPFL Piratininga informou que para solicitar o ressarcimento de danos em equipamentos elétricos, seja provocado por raios ou outras perturbações no sistema elétrico, o consumidor deve entrar em contato com a concessionária por meio dos canais de relacionamento (www.cpfl.com.brpiratininga@cpfl.com.br ou 0800 010 25 70) até 90 dias depois da ocorrência que teria danificado o aparelho. No pedido, deverá ser feita uma breve descrição do caso, com provável data e horário do ocorrido, relato dos problemas apresentados e detalhes de marca e modelo do aparelho. 

Depois do registro da ocorrência, a empresa terá um prazo de 15 dias para analisar individualmente as solicitações e dar uma resposta aos clientes. Neste período, a empresa verificará, em seus registros se houve instabilidade na rede de distribuição no período informado. Caso seja identificado o problema, a CPFL pode requerer que o cliente envie dois orçamentos sobre do equipamento danificado ou ainda solicitar um orçamento para reparo do dano ocorrido a uma empresa especializada. 

Se o pedido for aceito, a CPFL efetuará o ressarcimento (pagamento em dinheiro ou concerto do equipamento em assistência técnica), em até 20 dias após a resposta fornecida ao consumidor. A concessionária alerta que o ressarcimento ocorrerá somente quando a queima ou defeito em aparelhos elétricos estiver relacionado ao problema ou a falhas na rede elétrica da CPFL Piratininga. A concessionária não informou o número de pedidos de indenizações por estragos causados por raio foram encaminhados por consumidores da região de Sorocaba no ano passado e qual o montante de indenizações concedidas.

Entenda a origem dos raios
O raio é uma descarga elétrica que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil ampères, que corresponde a cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Ele se forma dentro das nuvens de tempestades, a partir de cargas elétricas geradas pelo choque de partículas de gelo dentro destas nuvens. Quando essas cargas atingem cerca quantidade surge uma faísca que dá início ao raio.

À medida que essa faísca se aproxima do solo, inicia-se uma descarga do solo para a nuvem, principalmente em objetos salientes e pontiagudos, ou ainda em pontos com maior condutividade elétrica. Quando essas duas cargas se unem, acontece o raio. As descargas atmosféricas podem ocorrer também no interior de uma nuvem. Em geral, quando os raios acontecem provocam um clarão e, logo em seguida, um barulho denominado trovão, provocado pelo deslocamento de ar. 

As pessoas, na maioria das vezes, são atingidas por correntes indiretas dos raios que vêm, por exemplo, pelo chão. São raros os casos em que as pessoas são atingidas diretamente por um raio, mas nestes casos ela morre imediatamente. Os para-raios têm a finalidade de proteger as edificações. Por isso, a pessoa pode morrer, por exemplo, atingida por uma raio em um campo de futebol que tenha um para-raios próximo. Ao contrário do que diz o dito popular, os raios podem cair em um mesmo lugar várias vezes. (Fonte: Grupo de Eletricidade Atmosférica - Elat - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe)

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