Data de conclave será definida na sexta-feira


Por meio de decreto, Bento XVI delega a cardeais poder de acelerar processo de sucessão; objetivo é evitar longo período de incerteza


CIDADE DO VATICANO - O Estado de S.Paulo
O papa Bento XVI autorizou os cardeais a acelerar o início do conclave, em meio a divisões políticas cada vez mais profundas, escândalo e crise de credibilidade da Igreja. Ontem, o pontífice permitiu em decreto que, em 1.º de março, os agora 115 cardeais eleitores - contando com os desfalques do escocês Keith O'Brien, recém-demitido, e do indonésio Julius Darmaatjadja, que não vai ao Vaticano por problemas de saúde - se reúnam e tenham a liberdade para antecipar o início da votação, originalmente programada para ocorrer a partir do dia 15. O objetivo é o de acabar o mais rapidamente possível com o período de incerteza.
A renúncia do papa, anunciada no dia 11, iniciou uma sucessão de revelações. Dias após o anúncio, já se discutia antecipar o conclave. O temor é de que as divisões se acentuem, o debate se prolongue e a Igreja chegue à Páscoa sem um novo papa.
Pelas regras, os cardeais teriam de esperar 15 dias após o fim do pontificado para começar o conclave. Ontem, alegando que o prazo original valia apenas no caso de morte, o Vaticano anunciou mudanças. "Deixo ao Colégio dos Cardeais a possibilidade de adiantar o início do conclave, uma vez que os cardeais estejam presentes", indicou o papa na introdução de seu decreto, conhecido como motu proprio.
Em um cenário "normal", nove desses dias seriam usados para marcar a morte do papa e o restante para permitir que os cardeais de todo o mundo chegassem a Roma. Mas, diante de polêmicas e crises que se acumulam, a Santa Sé quer uma transição rápida de poder - o que, para muitos, daria um basta à crise. Quatro cardeais são acusados de abafar crimes de pedofilia no passado, enquanto diferentes alas dentro da Igreja disputam o poder.
Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, explicou que, pela lei promulgada ontem pelo papa, os cardeais se reunirão em 1.º de março e então tomarão a decisão do dia do início do conclave. As especulações apontam para 8 ou 10 de março.
"Considerando a importância de garantir uma melhor administração das eleições do pontífice, estabeleço que certas normas do Universi Dominici Gregis (a constituição da Igreja) estão sendo substituídas", declarou o papa, revendo as leis estabelecidas em 1996 por João Paulo II. "É uma decisão de grande sabedoria", disse o arcebispo Pier Luigi Celata.
Fontes de dentro da Santa Sé apontam que a decisão do papa mostra sua preocupação de não permitir que o processo saia de controle por brigas políticas.
O decreto esclareceu a interpretação de outras leis, até a da necessidade de que o novo papa tenha o voto de "pelo menos" dois terços dos eleitores.
Outra decisão anunciada ontem pelo Vaticano foi a de endurecer qualquer tipo de punição contra cardeais que violarem o período de sigilo total do conclave. De acordo com o Vaticano, cardeais que usarem suas contas na rede social Twitter podem ser excomungados - uma decisão que caberá ao novo pontífice. Nove dos 115 cardeais têm conta no Twitter, entre eles o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. Angelo Sodano presidirá o conclave por ser o decano. / JAMIL CHADE, ENVIADO ESPECIAL

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