Lacunas deixadas pelo governo se transformam em oportunidades para ganhar dinheiro na saúde


Pesquisa inédita revela de que maneira as deficiências do SUS podem se transformar em novos negócios

RENATO JAKITAS, ESTADÃO PME

Felipe Rau/Estadão
Felipe Rau/Estadão
Segundo a pesquisa, 67% da população de baixa renda têm no SUS o acesso único ao setor da saúde
A expectativa de vida do brasileiro saltou de 62,5 anos para 74 anos em três décadas. Mas além de estender sua trajetória, o brasileiro busca viver com saúde e qualidade durante toda a vida. E isso representa uma grande oportunidade. Segundo pesquisa realizada pela Potencia Ventures, instituição norte-americana que dedica-se a investir em empreendedores de países emergentes, uma série de empresas na área de saúde devem surgir no Brasil nos próximos anos.
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Obtida com exclusividade pelo Estadão PME, o levantamento aponta que as oportunidades se desenvolvem principalmente entre os espaços deixados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que hoje funciona como única porta de acesso ao sistema hospitalar para 67% da população de baixa renda do País.
Por meio de entrevistas com empresários e pacientes, além do cruzamento de dados do IBGE, Datasus e do IMS Heath, a pesquisa destaca áreas promissoras para a atuação de pequenos empresários – gestão, prevenção e atenção básica estão entre elas.
“São áreas que não exigem investimentos iniciais tão altos e, por isso, são mais compatíveis com a realidade do empreendedor”, conta Vivianne Naigeborin, assessora estratégica da Potencia Ventures. “Mas há também oportunidades na atenção de média complexidade, como por exemplo viabilizar o acesso com custo acessível a médicos especialistas ou exames de média complexidade de maneira mais ágil que o atendimento público, que ainda tem muitas filas”, destaca a assessora estratégica.
Um bom exemplo que ilustra a análise de Vivianne vem de Fortaleza, onde Denis Cruz administra uma pequena clínica há seis anos e que se consolida oferecendo consultas a preços acessíveis, que vão de R$ 49 a R$ 69.
“Existe uma lógica perversa nos hospitais tradicionais. O convênio paga R$ 40 por uma consulta. Mas se uma pessoa não tem plano, paga R$ 200, R$ 300. Se você colocar um exame nessa consulta, aí vira R$ 800 facilmente”, conta Cruz, que trabalhava como administrador em um hospital da família e viu nessa prática uma oportunidade para começar um negócio por conta própria.
“Peguei R$ 60 mil, ocupei um anexo inutilizado do hospital dos meus pais, convidei alguns médicos e pendurei uma placa: ‘Clínica Popular’”, lembra. O empresário faturou R$ 1,5 milhão em 2012 e atraiu investidores externos para crescer. “Temos 25 especialidades, algumas bem sofisticadas, como angiologia e reumatologia. Atendemos cerca de 3 mil pacientes por mês”, diz.
O empreendedor agora prepara o lançamento da segunda clínica na cidade e começa a estruturar um plano de franquias para o negócio. “Temos espaço para 150 unidades no Brasil”, conclui.
Quem também anda com planos de expansão na área é o especialista em ciências da computação Leonardo Lima de Carvalho.
Ele desenvolveu um equipamento para triagem clínica a ser usado nas unidades de pronto atendimento. A ideia surgiu em 2008, quando Leonardo foi contratado pelo governo mineiro para implementar uma rede de urgência e emergência nos hospitais do estado. Durante o processo de desenvolvimento, no entanto, ele percebeu que o projeto não iria para a frente.
“Para fazer a classificação de risco funcionar, você precisa de nove equipamentos: termômetro auricular, oxímetro de pulso, um computador, enfim, nove fornecedores, nove assistências técnicas e por aí vai. Procurei alguma alternativa pelo mundo e não achei. Foi quando tive a ideia de fazer algo por minha conta”, explica o empreendedor.
Carvalho captou R$ 5 milhões no mercado e abriu a ToLife, que tem como carro-chefe um equipamento que agrega justamente todos os nove equipamentos necessários para a realização da triagem. Na maioria dos centros médicos brasileiros, para a realização desse procedimento, adota-se como referência o Protocolo de Manchester.
Atualmente, a empresa atende 800 hospitais, entre eles o Hospital das Clínicas de São Paulo, o João XXIII de Belo Horizonte e o Anchieta, que funciona em Brasília. “Estamos indo muito bem. Em 2012, faturamos R$ 14 milhões, R$ 6 milhões a mais que em 2011. E, se tudo der certo, quero chegar a R$ 21 milhões neste ano”, conta o empresário.

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