Pannunzio nomeou o genro do prefeito de Votorantim para o cargo de oficial de gabinete nível III, enquanto que Erinaldo escolheu o cunhado do prefeito de Sorocaba para assessor de planejamento
Jornal Cruzeiro do Sul
Wilson Gonçalves Júniorwilson.junior@jcruzeiro.com.br
Os prefeitos de Sorocaba e de Votorantim, Antônio Carlos Pannunzio e Erinaldo Alves da Silva, pertencentes ao mesmo partido, o PSDB, trocaram "gentilezas" e um nomeou o parente do outro para ocupar cargos comissionados, de livre nomeação, no quadro funcional dos municípios que governam. Pannunzio nomeou o genro do prefeito de Votorantim para exercer a função de oficial de gabinete nível III na Secretaria de Cultura de Sorocaba, enquanto que Erinaldo escolheu o cunhado do prefeito de Sorocaba para preencher o cargo de assessor de planejamento na Secretaria de Gestão Política e Econômica.
O primeiro a ser nomeado foi Pedro Miguel Moron Morad, com portaria publicada no oficial "Município de Votorantim", no dia 11 de janeiro de 2013. Ele é irmão de Maria Inês Moron Pannunzio, mulher do prefeito Antonio Carlos Pannunzio. Como assessor de planejamento na Prefeitura de Votorantim, Pedro Miguel Moron Morad vai receber R$ 4.451,39. A Prefeitura de Votorantim, por intermédio da assessoria de imprensa, informou que a nomeação de funcionário ocorreu em virtude de sua capacidade técnica. De acordo com a nota, ele vai exercer o cargo de assessor de planejamento na Secretaria de Gestão Política e Econômica, com a proposta de reavaliar a política industrial do município. "O profissional foi convidado pelo prefeito Erinaldo Alves da Silva a fazer parte do governo municipal devido ao seu amplo conhecimento na área industrial e comercial, antes mesmo que o prefeito Pannunzio fosse eleito para assumir a Prefeitura de Sorocaba", diz nota.
A Prefeitura de Votorantim acrescentou ainda que Pedro Miguel Moron Morad é engenheiro metalurgista, especialista em marketing metalúrgico e está concluindo o curso de pós-graduação em gestão de relacionamento com clientes. A nota frisa ainda que Pedro Moron acumula ainda experiência em consultoria para empresas de diversos ramos, nas áreas comercial e industrial e também foi delegado regional do Turismo do Governo do Estado, para a região de Sorocaba. "Sua função na secretaria é justamente em assessorar no planejamento econômico visando trazer novas empresas para Votorantim", afirmou a prefeitura.
Por telefone, Pedro Miguel Moron Morad informou que as respostas já foram dadas pelas Secretaria de Comunicação e não tinha mais nada a acrescentar sobre o caso.
Já Rodrigo Seabra Pedrico foi nomeado oficial de gabinete nível III com portaria publicada no jornal oficial "Município de Sorocaba" no dia 25 de janeiro. Rodrigo é casado com a vereadora Fabíola Alves da Silva Pedrico, filha do prefeito Erinaldo. Rodrigo é funcionário concursado da Urbes -Trânsito e Transporte, com a função de agente de trânsito, conhecido como "amarelinho" - segundo o portal de transparência da empresa pública. Com a nomeação, o genro do prefeito terá seu salário elevado de R$ 1.619,73 para R$ 4.077,25. A informação de salário foi retirada da tabela do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba.
Em nota, a Prefeitura de Votorantim informou que Rodrigo Seabra Pedrico é funcionário de carreira da Urbes e sua nomeação ao cargo junto à Secretaria de Cultura de Sorocaba foi uma decisão do prefeito Pannunzio. "Nenhuma das nomeações é uma tentativa de burlar qualquer lei e também não se trata de barganha política", acrescentou nota de Votorantim.
O jornal Cruzeiro do Sul tentou o contato telefônico de Rodrigo Seabra Pedrico com a assessoria da vereadora e também entrou em contato pelo celular de Fabíola Alves da Silva Pedrico. Entretanto, ele não foi localizado. A Prefeitura de Sorocaba foi procurada, porém preferiu não se manifestar.
"Do ponto ético é uma tragédia", avalia professor
Para o professor de política da Universidade de São Paulo (USP), Gaudêncio Torquato, a atitude dos prefeitos de Sorocaba, Antonio Carlos Pannunzio e de Votorantim, Erinaldo Alves da Silva, ambos do PSDB, não passa de recompensa correligionária, já que um vai acomodar o parente do outro com cargos comissionados, de livre nomeação, em municípios vizinhos. Torquato acrescentou ainda que a prática do ponto de vista ético é uma tragédia e é utilizada para driblar a legislação.
Segundo ele, como os prefeitos não podem empregam seus parentes na administração municipal, por causa do nepotismo, a prática é uma espécie de troca da favores. "Embora não seja um nepotismo direito, é no mínimo indireto. É mais ou menos assim: você nomeia meu parente ai e eu nomeio seu parente aqui", explicou.
Torquato acrescentou ainda que em muitas cidades brasileiras este tipo de triangulação ainda é até comum. Entretanto, a prática deveria ser excluída pelos governantes, tendo em vista que o país precisa de qualificação e de melhor estrutura pública. "Essa triangulação corrobora com a face mais pérfida (leviana) e ilícita da nossa cultura política. É um arrepio da lei", concluiu.
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