Número de queimadas aumenta 125% em apenas três semanas


Em agosto foram 72 ocorrências em 23 dias; média é de 3 focos por dia


Laurin Bizoni
laurin.bizoni@jcruzeiro.com.br
programa de estágio

A menor incidência de chuvas registrada nesta época do ano tem se refletido no aumento de casos de queimadas. Somente nos 23 primeiros dias de agosto foram 72 ocorrências em Sorocaba, o que corresponde a uma média de três focos de incêndio por dia. O número é 125% maior que o volume de casos contabilizados em julho, que somou 32. Entre janeiro e junho deste ano foram 71 registros. Os dados constam de levantamento realizado pela Patrulha Verde, que é o programa municipal de prevenção e combate a incêndios da Secretaria do Meio Ambiente (Sema). 

Os principais motivos que levam ao ateamento de fogo ainda são a limpeza de terrenos e a eliminação de lixo. De acordo com o tenente Silva Leite, oficial do 15º agrupamento do Corpo de Bombeiros de Sorocaba, a punição, em casos de queimadas, deve ser aplicada pela Prefeitura. De acordo com a lei municipal 8.405, de 24/03/2008, queimada é crime e sua prática é passível de multa de até R$ 3 por metro quadrado de terreno afetado. Além do pagamento, os infratores deverão reparar os danos ambientais causados. 

O tenente reconhece, no entanto, que não são muitos os casos de multas. "É difícil esse tipo de autuação, já que as queimadas podem ocorrer de forma natural ou por intervenção humana, embora seja de conhecimento que 90% dos casos não são devido a causas naturais. O dever do cidadão é sempre que possível denunciar quem coloca o ato em prática", alerta. 

Dados do Secretaria de Meio Ambiente mostram que, entre janeiro e julho de 2012, Sorocaba teve 134 ocorrências de queimadas, contra 103 no mesmo período deste ano. A queda, apesar de positiva, não é muito comemorada por quem atua no combate às queimadas. Para o tenente Silva Leite, a redução deste ano não está ligada apenas à conscientização. "Tivemos um período mais chuvoso entre junho e julho deste ano. Não podemos afirmar o que causou a redução de queimadas, mas infelizmente o motivo provavelmente deve estar ligado mais às chuvas e não apenas a fiscalização e punição, em conjunto com a conscientização da população sobre os danos à saúde que a queimada traz e que vem colaborando para que o número de focos de incêndios criminosos diminua", diz. 

O programa Patrulha Verde, criado em 2006, auxilia o Corpo de Bombeiros nos incêndios e queimadas. Conforme o tenente, neste ano, o grupo está atuando junto com a corporação desde junho em auxílio no combate aos focos. "Além da patrulha, estamos com uma equipe a mais comprometida nesse tipo de ocorrência que aumenta nesses meses. Essa ajuda é muito importante para nós, para que não seja prejudicado o socorro de casos mais sérios", afirma. Entre as recomendações para evitar as queimadas estão: não jogar bitucas de cigarros às margens de rodovias, parques ou em locais com vegetação seca, não colocar fogo no lixo, além de não promover queimadas para a limpeza de terrenos. A população pode denunciar incêndios pelo telefone 193. 
 
Doenças respiratórias 
A falta de chuva e o aumento das ocorrências de queimadas acabam prejudicando a saúde de pessoas com problemas cardíacos e respiratórios. Asma, enfisema, pneumonia e bronquite e infarto são doenças que podem ter complicação com a fumaça eliminada dos focos de incêndio e que podem atingir as regiões mais profundas do aparelho respiratório, ou até mesmo chegar à corrente sanguínea. Como resultado desta poluição, acontecem as alterações no sistema respiratório e cardiológico das pessoas. Os mais afetados são aqueles que têm um sistema imunológico mais carente, entre eles, crianças, idosos e pessoas com histórico de problemas cardiorrespiratórios. 

Segundo o pneumologista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), José Rosalvo Santos Maia, com a baixa umidade relativa do ar o funcionamento das vias respiratórias fica comprometido. "Casos de infecção são mais comuns nessa época, por quem tem ou não doenças crônicas. O número de pacientes na procura de tratamento chega a aumentar 50% nos consultórios", diz. Maia comenta que a dificuldade se torna maior quando o tratamento não é de prevenção.
 
"A maioria das pessoas não procura pelo médico no começo, deixando agravar o problema, e complicando a situação", alerta. Ele orienta que algumas ações podem fazer a diferença. "A velha dica do balde com água no quarto, beber bastante líquido, a toalha molhada no rosto e umidificadores ajudam na hidratação da via respiratória. Lembrando que no último caso, deve ser evitado o uso do aparelho umidificador por um longo tempo funcionando no ambiente fechado para não acumular fungos, que só acarretaria em outros problemas infecciosos", conclui. 

A dona de casa Bárbara Cristina Maganhato, 52, conhece bem essa rotina. Desde os 18 anos ela tem Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Apesar da palavra pulmonar no nome, a DPOC é uma doença sistêmica, ou seja, compromete o corpo todo. "Nunca fui internada, pois faço o tratamento diário, além de exames a cada seis meses. Porém, mesmo com toda a prevenção, ainda sinto os sintomas, que são a tosse constante, além do cansaço e falta de ar", diz. No inverno, Bárbara afirma que os cuidados são redobrados. "Com a baixa umidade aliada com as queimadas, quem tem problemas respiratório vive com a bombinha de oxigênio e o uso regular das medicações recomendadas", afirma. (Supervisão Rosimeire Silva)

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