Médicos de Schumacher lembram do acidente de Ayrton Senna

Jean François Payne, um dos responsáveis por anunciar o diagnóstico, aponta semelhanças entre os casos


Jamil Chade - Enviado especial - O Estado de S. Paulo
GRENOBLE, FRANÇA - Entre os médicos que atenderam o ex-campeão Michael Schumacher um nome não deixa de ser lembrado: o do brasileiro Ayrton Senna. Ainda que a situação seja outra e o esporte praticado totalmente diferente, os médicos apontam que ambos os campeões sofreram lesões cerebrais. Uma das maiores diferenças, porém, é a evolução na capacidade de tratamento e de socorro nos últimos 20 anos.
Senna morreu em um acidente em Imola em 1994, com a autopsia revelando que ele sofreu fraturas no crânio. "Os casos apresentam pontos similares. Ambos sofreram acidentes com forte impacto cerebral", declarou Jean François Payne, um dos médicos responsáveis por anunciar o diagnóstico de Schumacher ontem.  "Lembro-me bem do caso de Senna", disse.
Emmanuel Gay, chefe de Neurologia do Hospital de Grenoble, também aponta para as semelhanças. Mas destaca que, hoje, uma vítima de um choque tem mais chances de sobreviver que há 20 anos.
"Não sei o que teria mudado no caso de Senna, mas a realidade é que a técnica e a tecnologia avançou de forma revolucionária em 20 anos", disse. "Obviamente que se um caso é grave, ele é grave. Mas o que vemos é uma mudança importante no tratamento", contou.
Schumacher já escapou em diversas ocasiões de acidentes espetaculares, dentro e fora dos circuitos. Na pista, ele sobreviveu a três grandes acidentes, em 1995 e 1998. Em 2001, ele quebrou uma perna num treino. Em 2009, outro acidente de moto causou uma fratura no crânio. Um de seus administradores, Willi Weber, chegou a descrever Schumacher como um "viciado em adrenalina".
PRIVACIDADE
Sabine Kehm, empresária de Schumacher, falando em nome da família, pediu "privacidade". "Queremos pedir que a imprensa respeite nossa esfera privada e de nossos amigos e agradecemos a todo apoio expressado", afirmou a empresária, revelando também que os familiares estão abalados com o acidente. "A família não está muito bem obviamente. Eles estão chocados", disse.
Seu apelo se contrastava com as dezenas de caminhões de redes de televisão de todo o mundo, estacionados na porta do hospital. Nos corredores, equipes de reportagem se aglomeravam à espera de notícias, enquanto a imprensa alemã lembrava que ele era o maior esportista da história do país.
O local ainda viu o entrar e sair de vários outros médicos, levados por familiares, patrocinadores e pessoas envolvidas com Schumacher. Um deles era Gerard Sailant, que já o operou no passado. "Estou aqui na condição de amigo", disse o médico, claramente abalado. "Estamos todos muito preocupados".
Durante o dia, alguns dos principais chefes do esporte e pilotos chegaram ao hospital em Grenoble e até a chanceler Angela Merkel se disse "chocada" pela notícia. "Esperamos que ele se recupere", disse. Quem também viajou até a cidade aos pés dos Alpes foi Ross Brown, chefe da Mercedes, além de Nico Rosberg e Olivier Panis. Não faltaram ainda torcedores, que abriram bandeiras da Ferrari na porta do hospital. "Ele vai sair dessa. Heróis assim não morrem dessa forma", declarou Younes, um jovem de Grenoble entre tantos que foram ontem homenagear o alemão em um hospital na França. 

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