Emergentes reagem à crise de confiança e começam a elevar juros

Índia elevou a taxa básica em 0,25 ponto, para 8% ao ano, enquanto a Turquia subiu o juro de 7,75% para 12% ao ano; analistas esperam que mais países sigam esse caminho 


Fernando Nakagawa, correspondente
LONDRES - Após dias de forte pressão e desvalorização acelerada de suas moedas, os países emergentes começaram a reagir ao aumento da desconfiança internacional. O primeiro movimento foi do Banco Central da Índia, que anunciou uma alta inesperada de 0,25 ponto porcentual na sua taxa básica de juros, para 8% ao ano. Nesta terça-feira à noite, o Banco Central da Turquia anunciou um aumento ainda maior dos juros básicos, de 7,75% para 12% ao ano.

No Brasil, o dólar caiu em relação ao real também em boa parte do dia, mas acabou fechando em alta de 0,21%, a R$ 2,4270, diante de dúvidas sobre a situação fiscal doméstica. Analistas dizem que o quadro brasileiro é um pouco diferente da Índia e da Turquia. Perto de encerrar o atual ciclo de aperto monetário e após elevar o juro em 3,25 pontos nos últimos meses, o BC brasileiro pode enfrentar uma situação desconfortável se a mesma pressão que atingiu os dois países também chegar ao Brasil.A expectativa de que o mesmo receituário será usado por outros países acabou tendo um efeito positivo nos mercados, pelo menos momentaneamente. As bolsas de todo o mundo fecharam em alta - no caso das bolsas europeias, revertendo uma sequência de quatro dias de queda. As moedas dos países emergentes operaram boa parte do dia em alta em relação ao dólar, mas algumas não conseguiram segurar essa alta e acabaram fechando em queda no final do dia.
"Acho que o atual ciclo de alta do juro no Brasil acabará em fevereiro para que o BC avalie o cenário. Enquanto isso, como o presidente do BC, Alexandre Tombini, já mostrou, o governo tentará vender o discurso de que essa reação dos emergentes começou há muito tempo pelo Brasil e que os demais países estão copiando o Brasil. Esse discurso pode ser pouco para convencer o mercado", alerta o economista para o Brasil do espanhol BBVA Research, Enestor Santos.
Na segunda-feira, Tombini disse ao jornal Financial Times que outros países terão de seguir o Brasil na reação à crise, já que, segundo ele, a elevação de juros nos países desenvolvidos vai sugar os dólares que estão nos emergentes como se fosse um "aspirador de pó".
Mas, para Santos, apesar da alta do juro e do discurso de Tombini, o Brasil tem fragilidades que podem gerar desconfiança entre investidores, como a persistência da inflação e a deterioração das contas públicas. Diante disso, o BBVA não descarta a necessidade de uma nova alta do juro.
Convencimento. Com a alta dos juros, países emergentes oferecem maior rentabilidade ao capital estrangeiro e, assim, tentam convencer investidores a permanecer nesses mercados e não migrar para países desenvolvidos, em especial os Estados Unidos. Como a desvalorização de muitas moedas revelou nas últimas semanas, investidores estão saindo dos emergentes.
Essa fuga acontece por alguns motivos. O primeiro deles é a melhora da economia americana e a perspectiva de continuidade da retirada dos estímulos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Em dezembro, o Fed anunciou que o ritmo de compra de títulos para injetar dinheiro na economia seria reduzido de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões ao mês. E há uma expectativa de que uma nova redução possa ser anunciada hoje, quando termina a reunião de janeiro do banco. Esse movimento reduz a oferta de crédito aos emergentes, ao mesmo tempo em que oferece maior rentabilidade aos investimentos nos EUA.
Além disso, há preocupação com a desaceleração da China e problemas domésticos, como a fragilidade das contas externas da Turquia ou a situação fiscal do Brasil.
"Só o tempo dirá se a desconfiança com os emergentes continuará, mas os BCs parecem obrigados a serem mais proativos que no passado", diz o analista da corretora de câmbio Oanda, Dean Popplewell. "Nessas situações, as ações de um banco central devem ser rápidas e imediatas", completou, ao elogiar a ação na Índia.

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