Estatística mostra que Sorocaba tem um homicídio a cada três dias


Crescimento no 1º trimestre foi de 121,4% comparado ao mesmo período de 2013


André Moraes
andre.moraes@jcruzeiro.com.br


O primeiro trimestre deste ano registrou 31 pessoas assassinadas em Sorocaba, o que dá uma média de um caso a cada três dias. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), referente ao período de janeiro a março, esse número é 121,4% maior do que o registrado no 1º trimestre do ano passado, quando 14 homicídios ocorreram na cidade. Somente o total de casos ocorridos no mês de março deste ano, que foram 17, superam os registrados nos três primeiros meses de 2013 (14) e também de 2012, com 15 ocorrências. Segundo o presidente da Comissão de Segurança Pública da 24ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Sorocaba, o advogado Claudinei Fernando Machado, essa situação demonstra uma ausência de ações mais efetivas de combate à criminalidade por parte do Governo do Estado.

O aumento no número de casos de homicídio foi grande entre fevereiro e março de 2014, conforme mostram os dados da SSP/SP. Há dois meses aconteceram 6 assassinatos em Sorocaba, subindo para 17 no mês passado. Em janeiro foram contabilizados 6 casos.

Além dos homicídios propriamente ditos, as tentativas de homicídio também cresceram na cidade. Se comparados os dados dos três primeiros meses de 2013 e 2014, o aumento foi de 32%. Foram 22 registros no ano passado e 29 neste ano. Em 2012 foram 28.

A Polícia Civil foi procurada, porém informou que a Secretaria de Segurança Pública do Estado não autoriza que os seus representantes comentem sobre as estatísticas de criminalidade. A pasta, então, foi contata, via assessoria de imprensa, mas não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição. A reportagem também fez solicitação de entrevista à Polícia Militar, mas não houve retorno.

OAB: ausência do Estado
Para Machado, esse crescimento nas ocorrências de homicídio e de outros tipos de crime refletem uma "ausência" do Estado, que não investe o quanto deveria em ações que visam diminuir a criminalidade nas cidades paulistas. "Se o Estado se fizesse presente, aumentando o policiamento ostensivo, que deve ser exercido de forma mais atuante, isso poderia diminuir", analisa. Ele menciona uma possível falta de policiais, tanto militares quanto civis, em número suficiente para atuar numa cidade do porte de Sorocaba. "Nosso batalhão de Polícia Militar possui uma dotação funcional aquém da quantidade de policiais necessários. A Polícia Civil possui uma parcela de participação nisso. Os órgãos competentes deveriam pensar em uma forma de não sobrecarregar esses profissionais, porque profissional sobrecarregado não consegue dar conta do serviço, aumentando a chance de impunidade", afirma.

Segundo o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB, a falta de esclarecimentos de homicídios também ajuda a acentuar o número de ocorrências. "Casos não solucionados rapidamente tendem a cair na lista de casos não esclarecidos. Como temos poucos profissionais no setor de investigação de casos envolvendo morte, não seria o caso da administração pública aumentar a equipe responsável pela solução de casos de autoria desconhecida? Isso ajudaria a diminuir a sensação de impunidade", explica.

Outros crimes também apresentaram aumento

Os números de crimes violentos, como os roubos, também apresentaram aumento em Sorocaba. Os casos roubos de veículos, por exemplo, cresceram 24,1% entre 2014 e 2013, considerando os três primeiros meses de cada ano. Entre janeiro e março deste ano, foram 239 ocorrências desse crime, ante 174 em 2013. Já os roubos em geral tiveram aumento de 16,3%. Foram 562 entre janeiro e março de 2014 e 483 no mesmo período do ano passado. 

Conforme demonstram as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado, os furtos em geral e especificamente de veículos também registraram aumento. Entre janeiro e março de 2013 foram 2.006 casos, subindo para 2.068 em 2014. Ou seja, um crescimento de 3%. Já o aumento de furtos de veículos foi ainda maior, de 7%. Foram registrados 683 no primeiro trimestre do ano passado e 732 neste ano. 

Dois crimes apresentaram queda em seus registros. No caso dos flagrantes de tráfico de entorpecentes, houve diminuição de 24,1% entre 2013 e 2014, já que foram 307 ocorrências no ano passado e 233 neste ano. Os registros de estupros caíram 40%, na comparação dos primeiros três meses de 2013 e 2014. Aconteceram 50 no ano passado e 30 neste ano. 

Primeiro assassinato do ano foi em 5 de janeiro

O primeiro caso de homicídio de 2014 em Sorocaba foi registrado no dia 5 de janeiro, conforme mostra notícia publicada pelo jornal Cruzeiro do Sul. Naquele dia, o ajudante geral Renato José Florêncio, de 28 anos, foi morto a tiros no bairro de Aparecidinha. Ele era evadido da penitenciária Danilo Pinheiro (P-1), no bairro do Mineirão, desde a saída temporária do dia dos pais do ano passado. Ele cumpria pena por dois roubos no regime semiaberto. O corpo de Renato foi encontrado por populares por volta das 21h, na rua Oscar Mascarenhas. A Polícia Militar foi chamada e já encontrou a vítima sem vida, com perfurações no peito e cabeça. 

Em fevereiro, no dia 14, o policial militar aposentado Adilson Lopes, 50, foi morto com vários tiros nas costas, pernas e braços, em frente a uma padaria do Jardim Prestes de Barros. A Polícia levantou que o policial aposentado conversava com um conhecido em frente à padaria, quando um Celta passou por duas vezes pela rua e na terceira parou. De dentro do carro saiu um homem que usava capuz para cobrir o rosto, que se aproximou de Adilson e o mandou virar de costas. Nesse momento, o conhecido que conversava com Lopes entrou na padaria pensando que se tratava de um assalto e ouviu o barulho dos disparos do lado de fora.

Já no mês passado, quatro pessoas foram assassinatos em um período de 24 horas na cidade. Na manhã do dia 18, o estudante universitário Eliezer Cleber Albertini da Silva, 19, e um colega não identificado na época foram encontrados mortos dentro de um carro no bairro do Éden, na Estrada dos Sete Alqueires. Os dois foram executados com tiros de pistola 9 milímetros dentro do Audi A3 pertencente ao estudante. Ele, que estava no banco do motorista, apresentava uma perfuração na nuca, duas no lado esquerdo da cabeça e uma no lado direito, e outra atrás de um dos ouvidos. Já o rapaz desconhecido foi encontrado com uma perfuração no pescoço, outra na parte traseira da cabeça, uma no ombro e outra numa das laterais da cabeça. 

Na noite daquele mesmo dia, Ivan de Souza Oliveira, e Anderson Lapa dos Santos, ambos com 25 anos de idade, estavam dentro de uma lanchonete na rua Quirino de Mello e foram surpreendidos por quatro homens ocupando duas motocicletas. Segundo o que foi apurado na ocasião do registro do homicídio, os criminosos já teriam chegado atirando, e as vítimas, mesmo feridas, tentaram se salvar saindo correndo pela rua. Os dois rapazes correram para lados opostos, mas ambos foram atingidos e morreram no local. 

E, ao que tudo indica, as estatísticas de homicídios do mês de abril também serão expressivas. Entre domingo e ontem, quatro pessoas foram mortas em Sorocaba. Um dos casos causou bastante comoção na cidade, que seria o assassinato do soldado Sandro Luiz Gomes, 35, que foi baleado por criminosos na zona norte. Ele foi sepultado ontem.

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