Mãe de dançarino morto recusa convite para se reunir com o governador do Rio

A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Silva disse que recebeu ligações de assessores do governo para se encontrar com governador Luiz Fernando Pezão


O Estado de S. Paulo

RIO - A auxiliar de enfermagem Maria de Fátima Silva, mãe do dançarino Douglas Rafael Pereira, o DG, achado morto na terça-feira, 22, com um tiro em uma creche no morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, não quis participar de um encontro com o governo do Rio. Ela disse que, na manhã desta sexta-feira, 25, foi contactada por assessores do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) para se reunir com ele, mas recusou o convite.
"Eu não vou ao Palácio Guanabara (sede do governo do Rio). O governador está querendo se projetar em cima da imagem do meu filho. Mas eu não vou deixar nenhum político fazer isso. Existem outros crimes iguais ao do meu filho que não foram solucionados, como o da servente Cláudia (Ferreira, que teve o corpo arrastado por uma viatura da Polícia Militar em março), o do Amarildo, o do filho da Ciça Guimarães (Rafael Mascarenhas) e o da engenheira Patrícia Amieiro." A família de Cláudia Ferreira, contudo, reuniu-se com o então governador Sérgio Cabral no palácio dias após o episódio.
Pezão reiterou nesta sexta que as investigações estão sendo feitas com rigor. "Não vamos prejulgar, vamos dar a chance aos policiais de se defenderem, darem seus depoimentos. Não vamos acobertar nenhuma irregularidade. Se tivermos de cortar na própria carne, cortaremos. A família pode confiar no nosso empenho em chegar aos envolvidos." Ele também lamentou a morte do dançarino.
A mãe de DG disse que está tentando convencer uma funcionária da creche que estaria no local no momento em que o rapaz foi morto a prestar depoimento. "Ela está morrendo de medo, já até saiu da comunidade. Mas é uma testemunha-chave para provar que meu filho foi morto pelos policiais militares."
Testemunha. Mas o delegado Gilberto Ribeiro, da 13.ª DP, responsável pela investigação da morte de DG e de Edilson da Silva dos Santos (baleado na cabeça durante o protesto de terça-feira), afirmou nesta sexta que, quando foi ouvida, Maria de Fátima não citou a existência dessa testemunha. O delegado reafirmou que as lesões encontradas no corpo do dançarino não são compatíveis com tortura nem agressões, como Maria de Fátima vem acusando. "A mãe da vítima fala o que bem entender. Eu falo com base naquilo que eu apurar", afirmou.
Ribeiro confirmou que a posição em que DG foi encontrado corresponde à foto divulgada na edição desta sexta do jornal Extra. Na imagem, o dançarino está de costas e é possível observar claramente em suas costas um orifício causado por um tiro. No entanto, o delegado minimizou o resultado do laudo de perícia de local que apontou que os ferimentos na vítima eram compatíveis com aqueles causados por uma queda. "O perito não deve ter tido condições de afirmar, no momento, que aquele orifício era de projétil de arma de fogo. O objetivo da perícia de local não é exclusivamente apontar a causa da morte. Isso cabe ao laudo de necropsia feito no Instituto Médico-Legal. A perícia de local deve apontar a dinâmica do crime."
A primeira foto do corpo, que mostra o rapaz agachado em posição de defesa, foi divulgada na quarta-feira por parentes da vítima. Até então, imaginava-se que DG havia sido encontrado naquela posição. Foi ouvido nesta na 13.ª DP mais um dos dez PMs que teriam participado do suposto confronto com traficantes do Pavão-Pavãozinho na madrugada de terça, poucas horas antes de o corpo de DG ter sido encontrado. Nove PMs já depuseram no inquérito.

Postar um comentário

0 Comentários