Gasto com cigarro atinge R$ 76 milhões

Despesa com o vício este ano será 17,4% maior que 2013, revela pesquisa


O Dia Mundial Sem Tabaco é comemorado hoje, porém enquanto os poderes públicos e os cidadãos lutam para fazer com que menos pessoas se rendam ao vício do cigarro, os números de consumo desse produto continuam aumentando em Sorocaba. De acordo com uma pesquisa feita pela empresa IPC Marketing e Consultoria, os sorocabanos deverão gastar cerca de R$ 76 milhões com a compra de cigarros neste ano. Esse dado é 17,4% maior do que o registrado em 2013, quando a estimativa de consumo do produto foi de cerca de R$ 65 milhões. Se considerada a população estimada para Sorocaba em 2014, que é de 615.955 habitantes, cada pessoa deverá gastar R$ 123 com cigarros. Já em 2013, se dividida a projeção de gastos com a população (608.269), o gasto por pessoa foi de R$ 106.

Segundo o estudo feito pela IPC, os gastos com cigarros em Sorocaba deverão ser maiores do que os realizados com produtos essenciais. Por exemplo, enquanto os sorocabanos irão desembolsar cerca de R$ 76 milhões com um produto nocivo à sua saúde, eles deverão gastar cerca de R$ 70 milhões com produtos de limpeza. A compra de cigarros também está acima dos valores que serão gastos com livros e materiais escolares, que ficarão em torno de R$ 60 milhões.

A pesquisa ainda demonstra qual será a classe social que comprometerá mais o seu orçamento com a aquisição do produto feito a partir do tabaco e outros componentes químicos. A classe B possui destaque, já que deverá gastar R$ 35.906.726 para esse fim. Logo depois vem a classe C, com gastos de R$ 28.336.174. Com valores estimados a serem desembolsados bem menores, a classe A aparece em seguida, com R$ 9.174.308. Por fim, a classe DE deverá gastar R$ 2.565.850.

Segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil, a divisão de classes segue atualmente os seguintes parâmetros: A1 (renda média familiar acima de R$ 9.263), B (R$ 5.241), C (R$ 1.685) e DE (R$ 776).


Preço do cigarro


No final do ano passado, a maior indústria de cigarros do Brasil, a Souza Cruz, divulgou um aumento de 14% no valor de seus produtos para ser aplicado no início deste ano no Estado de São Paulo. O percentual é próximo ao do crescimento do consumo de Sorocaba do produto entre 2013 e 2014, que é de 17,4%. Atualmente, o maço de cigarro mais barato é vendido a R$ 4 em todo o País, segundo os dados divulgados pelas empresas do setor à Receita Federal.

Apesar disso, o número de fumantes vem caindo ano a ano no País. O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), indicou que o número de fumantes caiu 20% no Brasil em 5 anos. Em 2006, 19,3% da população brasileira declarou ser fumante, índice que caiu para 15,6% em 2012. Estima-se que 20 milhões de brasileiros são viciados em cigarro atualmente.


Números expressivos


O economista e professor da Universidade de Sorocaba (Uniso), Marcos Antônio Canhada, considera que o valor estimado para o consumo de cigarro na cidade neste ano é bastante expressivo e ainda faz um cálculo, para demonstrar o impacto no orçamento familiar dos sorocabanos. "Considerando o custo médio de R$ 6 por unidade de maço de cigarro, com apenas o consumo médio de uma unidade por dia, um consumidor de cigarros pode gastar cerca de R$ 4 mil por ano", destaca. Ele ainda constata que os gastos com esse produto representam 0,5% da estimativa total de potencial de consumo da cidade, que seria de R$ 14 bilhões. "Apesar da tendência de queda no consumo de cigarro, que ocorre por diminuição da propaganda, isso ainda demonstra um volume de negócio bastante grande dentro da economia".

Apesar disso, o professor da Uniso relata que essas estatísticas são subestimadas, por conta do mercado ilegal de cigarros. "Não se tem dados, mas provavelmente signifique um grande volume de comercialização oculto, em função dos níveis elevados de preço do cigarro no mercado legal", explica. Somente em uma semana, no mês de abril, a Polícia apreendeu mais de 4 mil maços de cigarros contrabandeados na cidade.

O diretor acadêmico da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (Esamc) de Sorocaba, Maurício Luis Marra, que fez uma dissertação de Mestrado em cima das campanhas antitabagistas, relata que os números não o surpreendem, porém diz se incomodar com os valores gastos na Saúde, para poder tratar os viciados em cigarros, que não são divulgados. Os órgãos oficiais de Saúde, como o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), não possuem pesquisas que demonstrem o valor gasto neste setor para o tratamento de doenças acarretadas pelo fumo.

Apesar disso, ele considera que os poderes públicos vêm fazendo sua parte, já que o cerco aos fumantes tem sido cada vez maior, contribuindo para desestimular as pessoas a se renderem ao cigarro. "Acredito então que, por um lado as campanhas antitabagismo surtem certo efeito, mas precisamos pensar agora em outras campanhas voltadas para o fim do vício", ressalta. Ele indica que o caminho seria investir em ações que mostrem o impacto do consumo de cigarros para a sociedade, em termos financeiros e sociais.

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