Apesar da derrota, oposição sai fortalecida da eleição

A votação expressiva de Aécio Neves, derrotado por uma margem de apenas 3% dos votos válidos, deve dar um fôlego extra a partir de 1º de janeiro de 2015 à oposição, que estava relativamente apagada do cenário político nacional desde a chegada do PT ao poder, em 2003. O mineiro, que tem mandato no Senado até 2018 e recebeu 51 milhões de votos, deve liderar a bancada opositora no Congresso.
A oposição vai contar com um número maior de congressistas. Juntos, os oposicionistas ampliaram o número de assentos na Câmara de 119 para 130. O PSDB passou de 44 para 54 deputados e se tornou a terceira maior força na Casa. Já a base de Dilma encolheu de 339 para 304, dentro de um total de 513.
Mesmo que no Senado o PSDB tenha visto sua bancada diminuir, de 12 para dez cadeiras, a legenda deverá estar mais presente no cenário político nacional por contar com políticos experientes, como José Serra, eleito por São Paulo, e Tasso Jereissati, pelo Ceará.
A partir de 2015, os dois senadores vão reforçar o papel da oposição. A bancada governista no Senado, que reúne 52 senadores, terá 53 no ano que vem. Como a Casa tem 81 cadeiras, a oposição poderá chegar a 28.
"Para 2015, a oposição está mais forte, o que é muito bom para a democracia. Ela não deve mais ir contra os programas sociais, mas cobrar por pautas mais centrais, como reforma política ou crescimento econômico", diz o professor de direito constitucional Alexandre Bahia, do Ibmec/MG. "Aécio, como toda a oposição, terá que aprender como criticar."
Mais espaço para criticar
Os tucanos tentarão aproveitar o descontentamento dentro da própria base governista – há sinais de racha, por exemplo, dentro do PMDB, aliado histórico do PT – para aumentar o poder da bancada de oposição no Congresso e tentar exercer com mais poder o papel de fiscalizar as ações do Planalto.
Dilma, por sua vez, terá que tentar trazer de volta alguns partidos aliados à sua base, ao mesmo tempo em que o Congresso estará mais fragmentado.
Em 2015, seis novos partidos vão ter o total de 28 deputados federais. Em comparação com a atual legislatura, serão seis representantes a mais, o que vai servir de teste para o governo petista.
"Dilma terá que, primeiramente, montar sua coalizão de governo. Ela terá mais trabalho, pois o Congresso está mais fragmentado, e os partidos aliados do PT, com bancadas menores", diz o cientista político Cláudio Couto, da FGV. "O PSB, que sempre foi aliado, migrou para a oposição e dificilmente voltará à base aliada."
Para Bahia, partidos como PSDB e DEM não sabiam ser oposição. Além disso, o "fator Lula" era algo importante: por ser uma força política de grandes proporções, afirma o analista do Ibmec/MG, os êxitos sociais do governo colocavam a oposição num lugar desconfortável de ter que criticar quem tinha forte apoio popular.
Atuação apagada em quatro anos
Apesar da derrota, Aécio, com 48,4% dos votos, foi o candidato do PSDB mais bem votado numa disputa de segundo turno desde 2002. Naquele ano, Serra teve 38,7% contra Lula; em 2006, Geraldo Alckmin recebeu 39,2% também contra Lula; e, em 2010, Serra perdeu para Dilma com 43,9%.
Por sua vez, Dilma é a petista que se reelegeu com o menor percentual desde 2002, quando começou a polarização entre PT e PSDB no segundo turno.
O cenário faz com que o tucano se torne a figura política mais representativa da oposição e um dos nomes mais fortes do PSDB para disputar em 2018 a Presidência da República.
Para se sustentar, porém, Aécio precisará fazer mais do que apenas criticar o governo federal: terá que ser mais visível. O senador teve atuação apagada nos últimos quatro anos. E pode enfrentar resistência por parte dos tucanos paulistas.
Para Cláudio Couto, a eleição deste ano poderia confirmar Aécio como principal força de oposição se não houvesse três fatores: a luta interna no PSDB pela indicação do próximo candidato presidencial – tendo os paulistas como protagonistas; a expressiva reeleição de Geraldo Alckmin em São Paulo, que reforça sua possível candidatura em 2018; e o fraco desempenho em seu berço eleitoral, Minas Gerais.
"A derrota de Aécio em seu próprio estado nos dois turnos e também na eleição para governador o enfraquece em sua base e tira parte de sua legitimidade para concorrer de novo em 2018", diz o analista político da FGV.
Autor: Fernando Caulyt

Edição: Rafael Plaisant

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