Mortes violentas de mulheres crescem 68%

Levantamento feito pelo IBGE apurou que número de vítimas passou de 70 (em 2003) para 118 (em 2013)


Carolina Santanacarolina.santana@jcruzeiro.com.br

O número de mulheres mortas vítimas de violência em Sorocaba aumentou 68% nos últimos dez anos. O levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que enquanto em 2003, 70 mulheres morreram de forma violenta na cidade, durante o ano passado (dados mais atuais disponíveis) esse número subiu para 118 ocorrências. No mesmo período, a população de mulheres do município aumentou 17%. O estudo mostra, ainda, que os anos de 2004, 2005 e 2006 foram os mais violentos para as jovens de até 29 anos de idade, registrando 23, 26 e 23 óbitos de mulheres nessa faixa etária, respectivamente. Nos últimos dez anos, a morte violenta de meninas entre 14 e 29 anos teve aumento de 33%, passando de 15 para 20 óbitos. A presença maior das mulheres na sociedade, crimes passionais e até mesmo o envolvimento das mulheres no tráfico de drogas são apontados como possíveis causas para esse cenário.

Doutor em antropologia e professor de Ciências Sociais da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (Esamc/Sorocaba), Silvio Luiz Sant"anna destaca a maior presença feminina na sociedade moderna. O aumento no número de mortes violentas entre as mulheres jovens, diz o professor, é reflexo da exposição das meninas, que estão saindo mais -- seja para atividades de entretenimento, seja para atividades profissionais. "As meninas estão saindo mais para a balada, para trabalhar e estão expostas aos mesmos perigos que os meninos", aponta. O antropólogo acredita que as mulheres sofrem ainda mais assédios violentos que os homens e são discriminadas no trânsito, bares e em outras situações cotidianas. Outro motivo lembrado pelo professor é a violência doméstica.

"Vivemos em uma sociedade machista e crimes passionais ainda vitimam as mulheres. O ciúme é um condicionante muito forte de crime passional entre os sexos e mesmo entre elas, mas a violência contra as jovens é majoritariamente devido ao machismo que não admite a liberação feminina", resume. A paixão foi a razão da morte da joven Jheniffer Cristina Silva Farias, 18, morta pelo namorado Fabrício Vinícius Mendes de Almeida, 25, em abril do ano passado. O jovem que trabalhava como auxiliar de produção, tirou a vida da namorada e depois se matou.

Sobre o aumento das mortes violentas envolvendo mulheres jovens, o Delegado divisionário de Polícia do Deinter 7, Osmar Guimarães, comenta ser difícil precisar os motivos sem uma pesquisa mais detalhada das ocorrências. Apesar disso ele reconhece o aumento da participação de mulheres em crimes envolvendo tráfico de drogas. "Isso é um fato. Mas a partir disso não podemos afirmar que isso tem sido a causa das mortes", pondera o delegado que acumula interinamente o cargo de delegado Seccional de Polícia.


Fortalecimento da autoestima


Assistente social do Centro de Integração da Mulher (CIM Mulher), Elisabete Silva, comemora o fato de nenhuma das atendidas pelo CIM, pelo menos nos últimos cinco anos, estarem entre as vítimas de mortes violentas por conta de agressão doméstica. Ela explica que a entidade trabalha no fortalecimento da autoestima das atendidas. Além do acolhimento emergencial das mulheres agredidas e seus filhos, a entidade leva orientações sobre os direitos das atendidas e sobre a lei Maria da Penha que, entre outras coisas, possibilita o afastamento do agressor.

"Promovemos o apoderamento dessas mulheres. Mostramos o quanto ela é capaz, das condições que ela pode alcançar, isso a gente faz sempre buscando uma mudança de postura por parte dessas vítimas. Temos muitos exemplos positivos de mulheres que retomaram o controle de sua vida, cessaram as agressões e recomeçaram do jeito certo", pondera a assistente social. Elisabete destaca que a primeira providência a ser tomada por pessoas em situação de violência doméstica é fazer um registro dos acontecimentos por meio de um boletim de ocorrência na Polícia Civil. Depois de feito isso é avaliada a necessidade de medidas protetivas. "Em alguns casos o agressor é quem tem que deixar a casa, por força da lei. Essas mulheres também têm a possibilidade de solicitar aluguel social e conseguir a proibição de aproximação desse agressor", comenta. O CIM Mulher atua na cidade desde 1997.

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