Em quatro anos, número de famílias pobres cresce 23%

Sorocaba contabilizou no ano passado 21.076 famílias nessa situação




Sabrina Souzasabrina.souza@jcruzeiro.com.br

O número de famílias pobres, aquelas em que cada membro sobrevive com rendimento mensal de até R$ 154, aumentou 23% nos últimos quatro anos em Sorocaba, passando de 17.113 em 2010 para 21.076 em 2014, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). O índice foi maior do que o crescimento populacional no período, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 8,6%. Embora essa faixa de rendimento corresponda ao perfil de pessoas que podem ser beneficiadas pelo Bolsa Família, menos da metade dessas famílias (9.837 ou 47%) estavam cadastradas no programa social de transferência de renda até o mês passado.

Apesar de reconhecer que nos últimos anos os serviços sociais oferecidos pela Prefeitura tenham impactado pouco na vida das famílias em condição de extrema vulnerabilidade social, a secretária da pasta, Edith Maria Di Giorgi, avalia que a pobreza em Sorocaba é "alimentada pela migração". "Os programas habitacionais e a geração de empregos na cidade, embora positivos, acabam atraindo muitas pessoas de municípios vizinhos em busca de melhores condições de vida, mas na verdade as empresas buscam mão de obra qualificada", opina. Essas famílias estariam instaladas, portanto, em áreas irregulares e invadidas. Além disso, cita Edith, na maioria das vezes os casos dessas famílias envolvem problemas de alcoolismo e uso de drogas.

O levantamento da Sedes indica ainda que as famílias pobres estão distribuídas de forma desigual pela cidade: mais da metade (53%) está na zona norte; 28% na zona oeste; 10% na zona industrial; 8% na zona leste; 1% na zona sul; e 1% na região central. Os bairros com maior incidência são o Conjunto Habitacional Ana Paula Eleutério (Habiteto), Vila Helena, Parque Vitória Régia, Jardim Santo André, Vila Barão, Nova Esperança e Jardim Ipiranga.


Reestruturação


O aumento da pobreza acima do crescimento populacional em Sorocaba ocorreu porque a rede de atendimento social não estava bem estruturada a fim de atender essa demanda, acredita Edith. "As condições de vida de outros níveis da população melhorou, mas de fato para a população mais vulnerável os serviços deixaram a desejar", afirma. Ela aponta, porém, que essa rede passou por uma reestruturação em 2013, o que permitiu avanços em outros indicadores, como da escolaridade e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A ampliação dos serviços proporcionou também a melhor identificação de onde estão essas famílias, por meio do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) do governo federal.

De acordo com a Sedes, fazem parte dessa reestruturação a inauguração de seis Centros de Referência de Assistência Social (Cras) - o próximo até o mês que vem -, totalizando nove unidades; outros dois Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), totalizando três unidades; e a manutenção do Centro de Atendimento a População de Rua (Centro POP), que presta atendimento a munícipes e migrantes em situação de rua no município, além do Centro de Referência do Idoso (CRI), do Centro de Referência da Mulher (Cerem) e de sete unidades do Território Jovem.


Baixa renda e benefícios


O CadÚnico concentra cadastros das famílias de baixa renda - entre R$ 0 e meio salário mínimo (R$ 394 em valores atuais) por pessoa ou famílias com renda mensal total de até três salários mínimos (o equivalente a R$ 2.364) - e possibilita a inscrição em programas sociais de transferência de renda. O número de famílias que vivem nessa situação em Sorocaba aumentou 6,4% em quatro anos, já que eram 31.189 em 2010 e 33.184 em outubro de 2014. Dessas, porém, 26,5% são consideradas famílias em condição de extrema pobreza, com renda mensal por pessoa de até R$ 77. Como pobreza, a faixa salarial considerada é de até R$ 154 mensais por membro.

Além do Bolsa Família, existem outros quatro programas sociais que atendem a população de baixa renda no município: o Programa Renda Cidadã, que em dezembro de 2014 beneficiou 433 famílias; o Programa Renda Cidadã Idoso, com 19 famílias atendidas; e o Programa Ação Jovem, com 420 famílias beneficiadas. Já a Lei Municipal de Gêmeos beneficiou 288 famílias em setembro de 2014.

Benefícios ajudam a complementar renda



O barraco improvisado às margens de um córrego da área verde do Jardim Aeroporto, região do bairro Nova Esperança, há mais de 16 anos serve de abrigo para as irmãs Vera Moraes Moreira, de 33 anos, e Mariane Moraes dos Santos, 23. A falta de infraestrutura mínima, como saneamento básico e ligação segura de energia elétrica, trazem riscos para a família. Mas a falta de emprego fixo não permite que as irmãs financiem uma moradia ou paguem aluguel. As despesas com alimentação, contam, são mantidas com os R$ 240 que as duas recebem juntas do programa Bolsa Família.

A renda é complementada com cerca de R$ 200 que Vera recebe pelas faxinas que faz, como diarista, e com mais R$ 200 que Mariane, atualmente desempregada, recebe como pensão alimentícia do filho mais novo, de nove meses. Além do bebê, ela é mãe de uma menina de dois anos. Já Vera tem uma filha, de 16 anos, para a qual a pouca renda adquirida pela família serve como pagamento de um curso técnico. As dificuldades com a alimentação são ainda maiores pois o bebê de Mariane tem alergia ao leite de vaca e elas precisam comprar um produto especial. "Nós queríamos sair daqui, mas na atual situação não tem como", reconhece Vera.

Mais recentemente a auxiliar de limpeza Adriana Camargo Gonçalves, de 19 anos, também se mudou com os três filhos para o barraco, depois de ter ficado sem um teto. Ela recebe pouco mais de R$ 800 por mês como auxiliar de limpeza e, por conta disso, não conseguiu obter o benefício do Bolsa Família. "Eu recebia quando morava com minha mãe, mas agora com carteira assinada acabaram cortando", afirma. Além disso as irmãs planejam receber em breve mais uma amiga, que por falta de condições ficou sem casa. "Ela já é de idade e precisa de ajuda. Teto onde cabe nove também pode caber dez", destaca Vera.

Já no bairro Jacutinga, a dona de casa Joelma Aparecida Inácio, de 24 anos, possui moradia fixa mas reclama do baixo poder de compra. A família, composta pelos pais e três filhos, é mantida com menos de R$ 800 mensais que o marido recebe como ajudante de obras. Embora a família seja beneficiada pelo Bolsa Família, o rendimento é usado para as necessidades básicas. "Aos sábados, quando meu marido consegue cuidar das crianças, eu costumo fazer faxinas para complementar a renda", conta. (S. S.)

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