'Mães-segurança': conheça as iniciativas contra a violência nos estádios

Em Recife, o clássico entre Sport e Náutico teve o "reforço" de 30 mães de torcedores trabalhando na segurança da Arena Pernambuco
O ano de 2014 não terminou com sabor amargo para o futebol brasileiro apenas por conta da humilhação sofrida em campo pela seleção diante da Alemanha na Copa do Mundo.
O Brasil fechou o período com o título de campeão mundial da violência no futebol, com 18 mortes comprovadamente ligadas à violência entre grupos de torcedores rivais. Um número que pelo menos foi menor que o de 2013, em que pelo menos 30 perderam suas vidas em incidentes do gênero.
Especialistas pregam uma política nacional de segurança pública como a principal medida para enfrentar o problema, mas iniciativas menos usuais com foco educacional estão marcando os esforços dos clubes. E mostrando formas mais criativas de divulgar uma mensagem pacífica. Veja alguns exemplos:
Mães-segurança
No último fim de semana, torcedores que compareceram à Arena Pernambuco, em Recife, encontraram um pelotão diferente envolvido na segurança para o clássico entre Sport Recife e Náutico: um grupo de 30 mães de torcedores do Sport, algumas delas de indivíduos conhecidos pelo mau comportamento nos estádios, trabalhou na partida.
A ideia foi uma iniciativa da Ogilvy, agência de publicidade que trabalha com o Sport, e foi divulgada pelos telões e o sistema de som do estádio.
Coincidência ou não, o clássico - numa das regiões que mais tem registrado casos de violência no futebol - transcorreu sem incidentes.
"Foi uma forma de passarmos a mesagem usando um lado mais emocional em vez de focar na questão da repressão", explicou à BBC Brasil o diretor-executivo de Criação da Ogilvy, Paulo Coelho.
"É um impacto muito grande para o torcedor saber que sua mãe está no estádio. É claro que o problema da violência exige respostas mais amplas, mas demos nossa contribuição".
Mascotes 'feridos'
Uma campanha da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina por menos incidentes em estádios apelou para a simpatia pelos mascotes dos clubes do Estado.
Eles foram apresentados como se tivessem sido feridos em brigas de torcida. Sob o slogan "A violência nos estádios enfraquece seu time", mascotes aparecem debilitados, com curativos e mesmo andadores. Foi em Santa Catarina, em dezembro de 2013, que uma briga violenta entre torcedores do Vasco e do Paraná provocou polêmica no Brasil e no mundo.
Sentando-se com o 'inimigo'
Envolvidos numa das mais ferrenhas rivalidades esportivas, Internacional e Grêmio poderão ter uma área mista no clássico de 1º de março, em Porto Alegre. O Internacional negocia junto à polícia gaúcha autorização para reservar uma área de seu estádio, o Beira-Rio, para que torcedores dos dois times se sentem juntos.
O clássico "Gre-Nal" de 1o de março poderá ter uma seção em que torcedores dos dois times se sentarão juntos
De acordo com os planos do clube, mil sócios-torcedores poderão convidar um torcedor gremista de confiança cada para assistir ao jogo. "Pode ser um amigo, um vizinho, um irmão, um pai. Ou seja, o colorado que querer assistir à partida em um setor misto não vai convidar um cara que é brigão, que não tem controle. Ele vai chamar alguém que já assiste ao jogo com ele em um churrasco", explica o diretor de administração do Internacional, Alexandre Limeira.
Privilégios cortados
A eleição do jornalista Marcelo Santana para a presidência do EC Bahia, em dezembro, não chamou a atenção apenas pela falta de experiência em administração esportiva de Santana.
O jornalista venceu a eleição sem o apoio das torcidas organizadas, que endossaram a candidatura rival. Isso porque Santana durante a campanha disse que manteria o compromisso do presidente anterior, Fernando Schmidt, de cortar benefícios para as organizadas, em especial a distribuição de ingressos gratuitos.
As torcidas organizadas do Bahia perderam privilégios como ingressos grátis para as partidas do time
De acordo com especialistas em violência do futebol, como o sociólogo Maurício Murad, a infiltração de torcidas organizadas por baderneiros e mesmo criminosos é um dos principais problemas a serem enfrentados nos esforços de redução da violência nos estádios.
"Houve recentemente discussões e mesmo tentativas de jogar as organizadas na ilegalidade, mas considero isso problemático por duas razões. Primeiro, nossos estudos mostram que mais de 90% dos integrantes dessas torcidas são em média pacíficos, e seria errado criminalizar toda associação. E em segundo lugar, empurrar esses grupos para a clandestinidade pode ser ainda mais perigoso", afirma Murad, que defende a criação de um disque-denúncia específico para casos de violência em torcidas organizadas.

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