Pesquisadores constatam que Baía de Guanabara levará mais dez anos para ser despoluída

RIO — Logo ao amanhecer, o instrutor de stand up paddle Paulo Oberlander desce sua rua em Piratininga, Niterói, com uma câmera numa mão e a prancha na outra para explorar o litoral. Como está bem próximo da entrada da Baía de Guanabara, muitas vezes rema mar adentro e fica inconformado com os registros que faz: lixo em profusão e diversas fontes de esgoto in natura escorrendo para a água. O cenário confirma a conclusão de pesquisadores da Coppe/UFRJ responsáveis por um estudo sobre o legado dos Jogos Olímpicos: a de que, até as Olimpíadas de 2016, a Baía não será despoluída, ao contrário do compromisso assumido pelo Rio em sua candidatura. A pesquisa foi encomendada pelo próprio Comitê Olímpico Internacional (COI) e ainda está sendo elaborada.
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Já a meta de ter uma raia olímpica que não prejudique as competições de vela é viável. Ainda assim, com restrições, diz o coordenador do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão (Sage)/Coppe, Rogério Valle, à frente do estudo, intitulado “Impactos dos Jogos Olímpicos” (OGI na sigla em inglês).
— Uma chuva forte na véspera da disputa seria um problema, porque arrastaria muito lixo dos rios para a Baía — explica Rogério. — O legado que teremos é o início do projeto de despoluição, para ser concluído daqui a dez anos. Reduzir em 80% a carga de esgoto despejado até 2016 é infactível.
A Coppe foi contratada pelo COI, através do Comitê Organizador Rio 2016, para produzir quatro relatórios sobre o legado das Olimpíadas. A primeira fase de pesquisas deu origem a um relatório para o COI, com o objetivo de mostrar a situação hoje. Os dados mais atuais usados, no entanto, são de 2012.
Já os três relatórios subsequentes — que serão apresentados em 2016, 2017 e 2019 — apresentarão dados concretos e atualizados sobre os impactos que os Jogos Olímpicos terão em termos de legado.
O biólogo Mario Moscatelli não se surpreendeu com a conclusão do estudo. Há mais de uma década estudando os rios que desembocam na Baía, ele afirma que o quadro é cada vez pior, apesar das obras de despoluição anunciadas desde 1994.
— Sobrevoo toda a bacia uma vez por mês. E vejo que os rios estão cada vez mais contaminados. Gastou-se uma fábula de dinheiro, e nenhum dos problemas estruturais foi resolvido — diz Moscatelli.
A Secretaria estadual do Ambiente informou que vai reavaliar todo o programa de despoluição da Baía de Guanabara.
IMPASSE EM JACAREPAGUÁ
Já o programa de despoluição dos rios que desembocam na Lagoa de Jacarepaguá, próximo ao Parque Olímpico, foi interrompido pelo Ministério Público por falta de licenciamento ambiental. Para dar continuídade ao programa, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, foi na terça feira ao MP para debater os impactos e tentar a liberação.

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