O ESFORÇO INÚTIL DA GLOBO EM DIZER QUE O GOLPE NÃO É GOLPE. POR PAULO NOGUEIRA

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Tamos juntos: João Roberto Marinho e Eduardo Cunha
Tamos juntos: João Roberto Marinho e Eduardo Cunha
O Globo disse, num editorial, que o golpe não é golpe.
Há muito tempo ninguém mais tem o direito de se surpreender com nada de abjeto quando se trata do Globo.
Cassar 54 milhões de votos deixa portanto de ser golpe porque a Globo não quer. A  Globo pode muito, mas não tudo. Não pode, por exemplo, transformar um golpe em qualquer coisa que não seja exatamente isso: um golpe.
Um golpe paraguaio, especificamente.
Nós do DCM lutamos por um Brasil escandinavo, justo e igualitário. A Globo quer transformar o Brasil num imenso Paraguai.
Dar nome às coisas é mais importante do que se imagina.
Os chineses chamaram de Guerras do Ópio as batalhas que travaram com os ingleses em meados do século 19. Os chineses queriam varrer o ópio britânico de sua terra. Os britânicos queriam poder vender livremente seu ópio, produzido na Índia.
A Inglaterra, muito mais armada militarmente, venceu. Só que os chineses conseguiram que a história registrasse os conflitos como Guerras do Ópio, para vergonha eterna dos britânicos.
Um historiador chinês da época notou que aquela fora a maior vitória da China – e a realmente definitiva.
Ainda hoje, as Guerras do Ópio são lembradas com embaraço pelos ingleses, num dos capítulos mais baixos de sua história.
No Brasil, o golpe de 1964 foi tratado pelos vitoriosos de então como Revolução. O Globo de Roberto Marinho não se cansou de saudar, entusiasmadamente, a Revolução.
A mesma imprensa que hoje se empenha no golpe fez a mesma coisa: era a Revolução.
Mas não há mentira que sobreviva indefinidamente na história de um país.
Sumiu do ar a palavra Revolução. Até a Globo, em algum momento, teve que reformular seu vocabulário. Nem os Marinhos chamam hoje o golpe de 1964 de Revolução.
Um governo legítimo, o de Jango Goulart, foi removido por dar foco aos desvalidos. Alguma semelhança com o que acontece hoje? Toda.
E no entanto o golpe se vestiu de Revolução, na linguagem dos militares da ditadura e seus amigos da imprensa.
Não pegou.
Agora é um quadro parecido. A Globo quer dar outro nome ao golpe, algo que mitigue o tom tenebroso do evento sinistro que é obliterar 54 milhões de votos por meio de políticos corruptos como Eduardo Cunha, juízes partidários como Moro e uma mídia desonesta como a casa dos Marinhos.
É ridículo, e é inútil.
Tentar dar ares constitucionais à quartelada por outros meios que o Brasil enfrenta hoje não vai funcionar. O golpe militar também teve a aquiescência constitucional dos juízes do STF de então.
O STF era tão comprometido politicamente em 1964 como é hoje. A diferença maior é que eles eram menos tagarelas do que Gilmar, Celso Mello etc.
Triunfe ou não o assalto da plutocracia à democracia, a posteridade registrará o episódio da mesma forma que ocorreu em 1964: como um golpe.
A Globo demorou meio século para se desculpar pelo seu apoio ao golpe.
Na hipótese de os golpistas mais uma vez vencerem, restará o consolo majestoso de que a Globo vai morrer pelas mãos da internet muito antes que decorram mais 50 anos.

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