MANO JESUS DA GALILEIA - por Jota Marques

Jornalistas Livres.
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MANO JESUS DA GALILEIA - por Jota Marques
MANO JESUS DA GALILEIA, saudades eternas.
JC era considerado e requisitado em todas as quebradas e tabernas; de Beirute à Jerusalém. E sempre munido de uma fita maneira para mandar, dava o papo!, divertia e ainda ouvia quem quisesse desabafar.
Todos sentem saudades, afinal, foi o melhor ombro amigo que conhecemos. E com ele, também, não tinha essa de pão-durice, manja? Chegava junto na "intéra" e não deixava faltar o-vinho-o-peixe no rolé. E ainda, garantia o pão quentinho pela manhã para matar a larica da galera.
Era humildão demais! Em seus pertences todos apenas: duas sandalinhas para o forró, que sempre doava no caminho. E chegava com a mesma picadilha em todo rastapé; black power mandado, às vezes trançado, descalço e com a mesma túnica encardida de sempre, costurada pela Tia Maria, a mãe dele, e um manto todo bordado em vermelho — coisa fina.
O Mano tinha presença, velho. Chegava e rapidinho uma galera se formava em volta dele, o puxando para dançar e coisa e tal, coisa de louco. Isso despertou a revolta nos recalcados: preto, boa pinta-bonitão, inteligente, sensível, gente boa, engraçado e considerado no rolé? Não ia dar outra.
Mas essa parte eu conto outra hora, ainda não superei.
Bate tristeza.
O lance é que JC foi importante para nóis tudo, ensinou que não há diferenças entre ninguém e mostrava o lance na prática: abraçava os pobres, as putas, as pessoas com deficiências, as pessoas em situação de rua, as crianças, os idosos, os doentes, homens e mulheres, todo mundo.
Por onde ele passava era carinho distribuído, dizia: “Considere os parceiros como considera a si mesmo, tio”. João corria e anotava, não deixava passar uma pala maneira que Jesus mandava.
Com JC não tinha erro, essa de preconceito era coisa de gente brega, falava que a parada era abraçar, beijar e amar todo mundo. O bagulho era louco!
É triste pensar que foi logo um beijo que deixou JC pregadão depois. Também não quero falar dessa parada agora. Ainda dói.
Dizia que todo mundo tinha que ter uma vida digna, poder ir ao rolé em paz, ser respeitado, amado, poder comer e beber na tranquilidade. E se tremia todo diante das injustiças e dos "Zé Porva" que vivia atrapalhando a vida da galera humilde, quebrava tudo na revolta, porque queria que todo mundo entendesse:
– Todo mundo é igual, porr!
...
Cês falam muito de Jesus,
mas seguem muito pouco o que ele deixou.
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#SomosMarginais - Texto escrito em 26 de março de 2016.

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