Apontado como repassador de propina a senadores do PMDB só teve prisão pedida depois de sair do Brasil


Tido como o operador de propinas mais influente da Petrobras, lobista ligado ao PMDB viajou para os Estados Unidos em janeiro. Ele vinha sendo citado por delatores desde 2014.
Embora fosse um personagem recorrente nas citações dos delatores que destrincharam o propinoduto da Petrobras desde 2014, o lobista Jorge Luz só virou alvo de um pedido de prisão pelo Ministério Público Federal em 1º de fevereiro deste ano. Veio tarde: ele teria deixado o Brasil, rumo aos Estados Unidos, no mês passado.

Seu filho, Bruno Luz, que também é alvo da operação Blackout (um trocadilho com o sobrenome Luz), saiu do país em agosto do ano passado, segundo a PF. A informação de que os dois são procurados pela Justiça brasileira já foi repassada à Interpol.

“Influente” e “bem entrosado”, segundo as palavras de um delator, Jorge Luz é considerado o decano dos operadores de propina dentro da Petrobras, onde opera desde os anos 1980.
Paraense radicado no Rio, Luz tinha acesso fácil a cardeais do PMDB do Senado, de acordo com os delatores.

O ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró, que se tornou delator no final de 2015, apontou Jorge Luz como o responsável a repassar a propina para senadores do PMDB por contratos da estatal com fornecedores.
Cerveró contou ter recebido US$ 2,5 milhões de propina pela contratação dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000.

Segundo Cerveró, Fernando Soares, o Fernando Baiano, e Jorge Luz foram responsáveis por repassar US$ 5,5 milhões a Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA), em troca de sustentação política para o então diretor da área internacional.
Dois depoimentos de Fernando Baiano, ainda em setembro de 2015, também contam que Renan e Jader receberam propina dos contratos dos navios-sonda por meio de Jorge Luz.

Baiano contou que esteve com Jorge Luz e este lobista “imediatamente aceitou fazer os pagamentos e disse ao depoente que iria fazer gestão junto a Renan e Jader Barbalho para que aceitassem o nome dele como intermediário dos pagamentos.”

Na versão de Baiano, os valores de propina também seriam distribuídos ao então senador Delcídio do Amaral (ex-PT) e ao ex-ministro das Minas e Energia Silas Rondeau (ligado a José Sarney), além de Jader e Renan.

O valor total da propina aos políticos, segundo Baiano, ficou em US$ 6 milhões. “Este valor seria dividido entre os políticos mencionados, em percentual que o depoente não conhece; que então aceitaram pagar os seis milhões de dólares; (…) que em geral passava as contas indicadas por Jorge Luz diretamente para [o lobista] Júlio Camargo; que quem entregava as contas era o próprio Jorge Luz ou o filho dele, Bruno Luz, com os dados das contas; que então passava a Júlio Camargo e destruía as anotações”, contou Baiano, em setembro de 2015.

“Todos os pagamentos feitos a políticos foram por intermédio de Jorge Luz, que fez com que o dinheiro chegasse a todos os políticos indicados, seja do PT ou do PMDB; QUE o depoente pediu para Cerveró confirmar com os políticos o recebimento dos valores e isto ocorreu em um jantar em Brasília, posteriormente, em que os políticos confirmaram com Nestor Cerveró o recebimento das quantias”, disse Baiano.

As declarações de Baiano ganharam peso com documentos. Uma das contas secretas de Baiano no exterior recebeu depósito da Pentagram Engineering, controlada por Jorge Luz, segundo a acusação.
A primeira citação aos dois como intermediadores de propina foi feita pelo primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, ainda em 2014. Na peça que pediu a prisão de Jorge e Bruno Luz, extratos bancários de contas por onde circulou o propinoduto da Petrobras registram transações a partir de contas atribuídas a Jorge e Bruno Luz em paraísos fiscais.

Uma conta de um genro de Costa, por exemplo, recebeu US$ 270 mil entre 2011 e 2014 das offshores Total Tec Power Solutions e Pentagram Engineering Ltd., controladas por Jorge Luz e pelo filho, segundo os investigadores.
Registros da sede da Petrobras, no Rio, mostram que tanto Jorge como Bruno Luz visitaram diversos funcionários da estatal diretamente ligados aos projetos dos navios-sonda.

O Ministério Público aponta também que “Jorge Luz foi o principal intermediador na venda da Transener”, uma companhia que a Petrobras repassou à empresa argentina Electroingenieria.

“[Luz] é apontado por Fernando Soares como o responsável por pagar propina em favor de agentes políticos (investigados perante o Supremo Tribunal Federal), de Nestor Cerveró e do colaborador”, conclui o documento.
O MPF afirma ainda que Jorge e Bruno Luz são donos de uma rede de empresas offshore de fachada, cujo objetivo era lavar dinheiro para políticos, principalmente do PMDB.

O senador Renan Calheiros afirmou conhecer Jorge Luz, mas não ter contato com ele há décadas. O peemedebista nega que tenha recebido propina por contratos da Petrobras.

O BuzzFeed Brasil ainda não conseguiu falar com as defesa de Jorge e Bruno Luz, bem como com o senador Jader Barbalho.
Em nota, o Ministério Público Federal disse que “o pedido de prisão foi feito em virtude do avanço das investigações”.
Leia a íntegra.
Conforme foi explicado durante a coletiva, o pedido de prisão foi feito em virtude do avanço das investigações. Nenhum medida cautelar é adotada somente por depoimentos prestados pelos colaboradores. Mas sim baseados em uma série de provas e documentos que foram surgindo ao longo dos trabalhos de apuração. Boa parte do material probatório foi entregue pelos colaboradores (em especial Nestor Cerveró — ex-diretor da Área Internacional, onde os lobistas atuavam com mais intensidade) e também por meio de cooperação internacional com países onde eram mantidas as contas offshore para depósito dos valores ilícitos. Os procedimentos realizados por meio de cooperação internacional, de forma geral, demandam tempo.
Graciliano Rocha é Editor de Notícias do BuzzFeed e trabalha em São Paulo. Entre em contato com ele pelo email graciliano.rocha@buzzfeed.com.
Alexandre Aragão é Repórter do BuzzFeed Brasil e trabalha em São Paulo. Entre em contato com ele pelo email alexandre.aragao@buzzfeed.com

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