“Nossa bandeira jamais será vermelha”. Só na conta de luz

AROVELA
Porém, ao contrário do que ocorria nos “velhos tempos”, não se fala em risco de “apagão”.
E, de fato, seria precipitado falar.
Mas o decréscimo da energia acumulada nos reservatórios é assustador, e isso é, sim, notícia que não se dá.
Aos números: no final de maio, os reservatórios de todo o país tinham 42,14% de sua capacidade preenchida. Junho e julho tiveram quedas discretas, esperáveis, para 39,17 e 37,29%.
Mas aí vieram um agosto e setembro extremamente secos e o volume caiu, ao final do mês, para terminar agosto em 31,5% e chegar, ontem, a 23,25%. O mês terminará na casa dos 22% da capacidade dos reservatórios suprida.
Com o agravante de que, segundo a previsão calculada pelo governo, através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e seus modelos matemáticos , “elementos diagnósticos e prognósticos também indicam que, muito provavelmente, haverá atraso no início da estação chuvosa na grande área central do Brasil.
Chamou-se a atenção, aqui, para o fato de que a situação, que é dramática, não ser ainda desastrosa apenas por conta do programa de geração eólica, sem o qual, num cálculo de estimativas, estaríamos hoje abaixo dos 15% de reserva hídrica.
Mas essa conversa, como a do risco de apagão – e não sou adivinho para dizer que o teremos, embora estejamos numa situação limite – é tema de um ótimo testemunho do coleguinha Ivson Alves, que entende de mídia e de energia, em seu blog.
Criado em 2004, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) tinha o objetivo de “promover a diversificação da Matriz Energética Brasileira, buscando alternativas para aumentar a segurança no abastecimento de energia elétrica, além de permitir a valorização das características e potencialidades regionais e locais”. Ou seja, fazer com que o país, aos poucos, deixasse de depender em demasia da energia gerada pela fonte hídrica (após Belo Monte, não haveria mais locais para construir grandes hidrelétricas com custos ambientais e financeiros razoáveis) e diversificar o “mix” de geração, botando na receita também a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas.
Por anos, os jornalistas atacaram o Proinfa acusando-o de atrasos, mesmo diante das explicações que um programa daquela magnitude, que visava também criar do zero uma cadeia produtiva inteira, estava sujeito a atrasos, mas que, em meados dos anos 10, tudo estaria pronto e seria muito importante para o país. O programa daria certo e realmente deu.
Derrotados pela realidade, os jornalistas calaram até que a ex-presidente Dilma Rousseff falou que uma característica única existente no Brasil – a de que os períodos de chuva e seca são perfeitamente complementares com os de maior menor e maior ventosidade – permitiria “estocar vento”. Queria dizer ela que, no período seco no país (entre abril e novembro), o uso de energia eólica permitiria economizar água nos reservatórios, reduzindo, assim, o perigo de sofrermos racionamento como em 2001, sem precisar elevar tanto as tarifas, o que é inescapável quando se usa térmicas a gás e óleo, combustíveis mais caros que a água. Aproveitando a tirada da então mandatária, os coleguinhas caíram matando, dando vazão aos deboches das redes sociais e ignorando as explicações dadas a eles por técnicos do setor elétrico.
Atualmente, o país passa, novamente, por um período de escassez de chuvas e as usinas eólicas têm dado importante contribuição à manutenção do suprimento de energia. O fato tem sido noticiado, mas não é mencionada, pela grande imprensa, a importância estratégica do Proinfa para que ele existisse, embora o seja, de passagem, pela alternativa.
As usinas eólicas, quase todas produto da era Lula-Dilma, produzem 10% da energia elétrica consumida no Brasil e equivalem, neste momento, a 70% de Itaipu, uma das maiores, senão a maior, usina hidrelétrica do mundo.
Estamos estocando vento e os bobalhões continuam fazendo piada.
Por enquanto, com a luz acesa.

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