Senador relata conversas mantidas com o presidente
pouco antes de seu rompimento com o governo
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Vera Rosa, O Estado de S.Paulo
29
Setembro 2017 | 09h37
BRASÍLIA - Hoje na
oposição, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) está em guerra contra o
presidente Michel Temer. Renan agora acusa Temer de ter mantido negociações com
o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na tentativa de livrar
seus amigos da Lava Jato, incluindo ministros e o então presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, hoje preso. Para o senador, Cunha e Temer são
"umbilicalmente" ligados. “Aquilo ali é um corpo só”, atacou ele.
Senador Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: André
Dusek|Estadão
Renan relatou conversas mantidas com o presidente
pouco antes de seu rompimento com o governo, em fevereiro. Disse que Temer chegou
a dizer a ele que “fecharia os olhos” para a sucessão de Janot, nomeando um
aliado dele, Nicolao Dino, se fosse o mais votado na lista tríplice do
Ministério Público. Em troca, teria acertado que o procurador-geral não
denunciaria ministros.
“Foi por isso que
Michel fez aquele pronunciamento, em fevereiro, dizendo que, se um
ministro fosse denunciado, seria afastado do governo. Já tinha um acordo”,
afirmou Renan.
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Ex-presidente do Senado e ex-líder do PMDB, o
senador disse que alertou Temer de que Janot não era confiável. “Eu falei para
ele: Michel, você não vai fazer aliança com Janot. Ele já traiu Fabiano e
também vai lhe trair na primeira esquina”, contou, numa referência a Fabiano
Silveira, ministro da Transparência do governo Temer. Fabiano caiu 18 dias após assumir o cargo, em maio de 2016,
após ser gravado em conversa com Renan, seu padrinho, orientando o então
presidente do Senado e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado nas
investigações da Lava Jato.
De acordo com Renan,
Temer também negociou com Janot, quando ainda era vice-presidente, a retirada
do nome de Henrique Eduardo Alves das investigações. “No governo Dilma, queriam
nomear Henrique para ministro do Turismo. Dilma disse ao Michel que só nomearia
se ele não estivesse na lista de Janot. Michel, então, se encontrou com Janot e
pediu a ele para tirar Henrique e também Eduardo Cunha da investigação. Ele
livrou Henrique, mas disse que não conseguiu tirar o Eduardo”, contou o
senador.
Sem o nome na lista, àquela altura, Henrique acabou
nomeado por Dilma em abril de 2015, substituindo Vinícius Lage, afilhado político de Renan. Alvo da Lava Jato, o senador
soube, depois, que Temer nunca fez qualquer pedido por ele ao procurador-geral.
“Janot mandou o seguinte recado para mim, por meio de um interlocutor: ‘Diga ao
presidente Renan que ele não tem prestígio nenhum com o vice-presidente'” .
Renan assegura que
disse tudo isso para Temer na conversa de rompimento. Chegou até a pedir ao
presidente a demissão do então ministro da Justiça, Osmar Serraglio, segundo
ele indicado por Cunha “de dentro da prisão”. Temer teria respondido: “Renan,
você sabe que estou sendo chantageado”.
Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência
(Secom) negou as acusações feitas por Renan. “O senador Renan Calheiros deveria
escolher melhor seus amigos-informantes. Verifica-se, pelas informações
fantasiosas, que essa é mais uma de suas escolhas erradas”, diz o texto
assinado pela Secom. O Estado não conseguiu contato com Janot.
Pouco antes de deixar o cargo, há 12 dias, Janot
apresentou a segunda denúncia contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF) - desta
vez por organização criminosa e obstrução da Justiça - e incluiu na
acusação os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria
de Governo). Temer não nomeou Nicolau Dino, o primeiro da lista do Ministério
Público, para o comando da Procuradoria-Geral da República, escolhendo Raquel
Dodge, a segunda colocada.
“Janot fez tanta besteira que criou condições para
Michel se salvar. Ele agora está se beneficiando dos erros e dos crimes
cometidos pelo Ministério Público”, provocou Renan.
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