Izaías Almada: Até quando irá o sangue de barata do Brasil diante de tantas barbaridades dos golpistas? Olha a foice, querido!

29 de outubro de 2017 às 17h18

viomundo
A FOICE SEM O MARTELO
Izaías Almada
Uma anedota antiga, já meio gasta, conta que um cidadão pronto para passar “desta para a melhor”, foi conduzido do purgatório ao inferno e ali tomar conhecimento do seu destino post-mortem.
O que viu parecia, perto do que Dante descreveu, bem pior: o primeiro (ou derradeiro?) estágio era ficar dentro de uma piscina de merda apenas com a cabeça de fora.
Não se fazendo de rogado e querendo mostrar tranquilidade o cidadão perguntou ao demônio que o acompanhava se era só aquilo o castigo inicial, ao que o peçonhento respondeu: “depende, de hora em hora alguém gritará OLHA A FOICE!”.
Parece-me ser esta a situação atual do Brasil: vivemos quase todos (pois a turma da foice tem se defendido bem) com a merda pelo pescoço e quando vislumbramos uma possibilidade mínima de mudança para nos aliviarmos, lá vem o grito demoníaco: OLHA A FOICE!
A anedota é uma maneira metafórica de dizer que o atual momento político/institucional brasileiro já não pode ficar somente à mercê de denúncias da oposição ou mesmo de reflexões sobre o dia a dia dos acontecimentos à espera de uma possível mudança nas eleições de 2018.
Como diria um bom cozinheiro, a massa do bolo já desandou. A reação da parte saudável do país ao golpe está cada vez mais atrasada.
Louvem-se os pequenos atos de resistência, todo o esforço dos blogs progressistas e suas reportagens investigativas, as atitudes e falas corajosas de um ou outro deputado ou senador, uma que outra declaração de advertência contra o fascismo que nos vai envenenando. Ou até de caravanas de esperança pelo nordeste e Minas Gerais…
Infelizmente o Brasil vai dando provas semanais, diárias, de hora em hora, de que tem sangue de barata, de que a cada dia que passa se acovarda diante dos arreganhos do governo golpista e seus defensores, sejam eles pertencentes ou não à quadrilha que assaltou o poder e seus apoiadores de toga e policiais fardados ou à paisana.
Irá o país esperar democrática e republicanamente até outubro de 2018 na esperança de que possamos reverter o atual quadro e as barbaridades cometidas quase que diariamente contra a democracia e o povo brasileiro?
Irá o país conceder aos larápios e aos quinta colunas mais um ano para que roubem por um lado e por outro vendam a soberania do país por trinta dinheiros?
Permitir o achincalhe de suas instituições?
Ou encontrará uma maneira corajosa para dar um basta ao desmanche, ao entreguismo, ao novo e incipiente estado de exceção?
Estará a maioria do povo brasileiro dopada?
Ainda não nos demos conta do que aconteceu em apenas um ano de governo Temer?
Será preciso esperar mais um ano, se lá chegarmos, para nos situarmos num quadro de terra arrasada?
Com investigações e prisões feitas arbitrariamente por delegadozinhos do interior, autorizadas por juízes que não leem o que assinam, colocando cada vez mais o poder judiciário na vala comum dos incompetentes, para não dizer coniventes?
Mais perseguições ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e a seus familiares, nessa sórdida e nefanda demonstração de poder cultivadas numa sinistra mistura de falso estado de direito, psicopatia jurídica e salpicadas de um mussolinismo de algibeira?
Os dias passam e… Nada. Nada, absolutamente nada a demonstrar que há uma disposição de se lutar pela volta plena do estado de direito, da liberdade de opinião e expressão, da disputa pacífica nas batalhas das ideias.
Ou estamos todos felizes com a nossa “democracia”?
Felizes com o alto índice de desemprego?
Com o congelamento disfarçado ou não dos salários?
Com a volta da fome?
Com o descrédito internacional?
Com a redução e o congelamento de verbas para a saúde e a educação nos próximos vinte anos?
Com a entrega desavergonhada do nosso maior patrimônio, a Petrobrás?
Com os fascistinhas de plantão e os humoristas de porta de cadeia a deitar falação sobre o que deve e o que não deve ser feito?
Vivemos uma desmoralização generalizada, uma espécie de fim de feira onde o fedor, como na anedota acima, empesta o país de tanta leviandade, hipocrisia, perversidade e, o que começa a ser trágico, de uma inexplicável e total falta de reação daqueles que, mesmo imbuídos de conceitos livrescos mal assimilados ou desenquadrados de um tempo histórico que já não volta, insistem em dar a cara para bater.
A História não costuma perdoar aos fracos e indecisos. Os grandes movimentos libertários do pós-guerra e dos anos 60 já estão com seu período de validade vencido.
Há que encontrar novos líderes e novas estratégias. Ou isso ou o Brasil começa, querendo ou não, a pavimentar a estrada por onde surgirá o Hitler brasileiro.
Ainda haverá tempo? Cuidado, querido leitor, OLHA A FOICE!

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