POLÍCIA FEDERAL COMANDA VIOLÊNCIA NO DESPEJO DE INDÍGENAS EM DOURADOS


Usando de violência, um oficial da Justiça Federal, acompanhado de policiais federais e da Força Tática da Polícia Militar, cumpriu à força, na manhã desta terça (5/12), ordem de despejo contra ao menos dez famílias de indígenas Guarani Kaiowá, em Dourados, incluindo idosos e crianças. Policiais da Força Tática da PM fortemente armados dispararam balas de borracha e bombas contra os índios da aldeia Pindo Roky, integrantes das reservas de Guapo’y e Jagua Piru, que ocupavam a área desde o ano passado.
Vários dos ocupantes ficaram bastante feridos com disparos de balas de borracha à curta distância e tiveram cortes profundos nos pés ao correr da agressão militar. Fotos encaminhadas por lideranças de várias partes do país mostram índios com ferimentos nos braços, tórax e membros inferiores. As imagens também mostram o rastro de destruição deixado pela operação na área ocupada, onde só se vê destroços de barracos e restos das bombas de gás espalhados pelo local da ocupação, localizada na região norte de Dourados, a 233 km de Campo Grande (Mato Grosso do Sul).
Nos recursos contra o despejo, advogados da Funai e o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida sustentam que as terras ocupadas pelos índios seriam extensão da reserva Caarapó, em Dourados. Dos 3,6 mil hectares da área indígena criada em 1917, apenas 3.539 foram registrados no cartório de imóveis, 49 anos depois. Após o despejo, os indígenas resistiram à expulsão empunhando troncos em chamas com os quais efetuaram o bloqueio do anel viário em frente ao sítio, no trecho entre a MS-156 e a BR-163.
Na ordem judicial que determinou à PF o cumprimento da reintegração de posse, a Justiça Federal tinha mandado intimar a Funai a enviar representantes para acompanhar o despejo. Apesar disso, o coordenador da Funai em Dourados, Fernando de Souza, não participou da operação. "Muito triste e revoltante ver os parentes sendo violentamente expulsos do seu território como invasores", manifestou-se o indígena Guarani Roberto Mosanio. "Infelizmente essa é a realidade do país chamado Brasil".
Essa é a segunda vez que os indígenas sofrem despejo no mesmo local. A primeira ocorreu em outubro do ano passado, sete meses após a ocupação. Em julho deste ano, os índios voltaram a ocupar a área, onde produziam hortifrutigranjeiros. Apesar das fotos, o advogado dos proprietários divulgou para a mídia comercial que os índios estavam saindo pacificamente das terras. Ao contrário do que mostram as imagens também, o representante dos fazendeiros declarou que as famílias estão desmontando elas próprias os barracos. Em uma versão oposta, durante todo o dia, entidades de apoio aos povos indígenas recebiam pedidos de socorro para se deslocarem ao local do conflito e apoiar a luta da comunidade Guarani Kaiowá.
A reintegração de posse, expedida em novembro com prazo de 90 dias foi cumprida em tempo recorde. A Justiça Federal exigiu do governador Reinaldo Azambuja que a decisão judicial fosse imediatamente executada. A propriedade contestada como reserva indígena pertence formalmente à agricultora Adelina Oshiro e fica na margem do Anel Viário, no trecho entre a MS-156 e a BR-163. Outras seis propriedades, também localizadas na margem do Anel Viário, rodovia que separa bairros da região norte da reserva indígena local, continuam ocupadas desde março do ano passado. Os processos estão na 2ª Vara Federal.
(Raquel Wandelli/Jornalistas Livres com informações e fotos do Grupo Apoio Guarani)

Postar um comentário

0 Comentários