O ex-procurador da Lava Jato, Marcelo Miller, acabou de derrubar os benefícios concedidos na delação premiada da JBS.

26 de fevereiro de 2018 às 17h55

  
Da Redação
O ex-procurador da Lava Jato, Marcelo Miller, acabou de derrubar os benefícios concedidos na delação premiada da JBS.
O acordo foi rescindido pela procuradora geral da República, Raquel Dodge, diante do fato de que o procurador atuou dos dois lados do balcão.
Miller ainda estava na Procuradoria quando, num grupo de whatsapp, conversava com executivos da JBS.
Com isso, os delatores Wesley Batista e Francisco de Assis e Silva perdem os benefícios. A rescisão da delação já tinha acontecido anteriormente com Joesley Batista e Ricardo Saud.
Segundo a PGR, as provas obtidas a partir das delações continuam valendo, mas certamente serão questionadas pela defesa dos acusados.
Numa conversa de 27 de março, Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico do grupo J&F, avisa Wesley: “Amanhã ele [Miller] tem expediente no atual emprego dele”.
As mensagens foram apreendidas num celular de Wesley Batista.
Numa, de dia 4 de abril, Miller avisa: “Só quero recapitular aqui a outra ponta, a dos EUA. Amanhã vou pra lá pra ver o que arrumo”.
No mesmo dia, Joesley pergunta diretamente: “Amanhã você trabalha ou é seu último dia?” Miller responde: “Hoje foi o último” (veja a íntegra das mensagens e as razões da PGR abaixo).
Miller deixou o cargo oficialmente no dia 5 de abril.
No mesmo dia, viajou para os Estados Unidos já pelo escritório de advocacia que assessorou a delação dos irmãos Joesley e Wesley.
A passagem de classe executiva, comprada de última hora, custou o equivalente a R$ 36,2 mil, mais que o salário bruto que Miller recebia como servidor da PGR, de R$ 34,9 mil.
Segundo a PGR, Miller recebeu 700 mil reais do escritório Trench, Rossi e Watanabe e trabalhou num período em que não poderia advogar.
Em maio de 2017, quando começaram as suspeitas de que Miller havia atuado dos dois lados do balcão, a PGR negou enfaticamente, em nota que dizia:
Acerca de notícias veiculadas pela imprensa na manhã deste sábado, 20 de maio, a Procuradoria-Geral da República esclarece que o ex-procurador da República e hoje advogado Marcelo Miller não participou das negociações do acordo de colaboração premiada dos executivos do grupo J&F.
O Ministério Público do Distrito Federal também emitiu nota:
Em relação a reportagens publicadas na manhã deste sábado, a força-tarefa da Operação Greenfield esclarece que o ex-procurador da República, hoje advogado Marcelo Miller, participou apenas de uma fase inicial da discussão de cláusulas para um possível acordo de leniência do Grupo J&F. A pedido dos procuradores que representam o MPF na negociação, ele se afastou na parte final de discussão, em que, entre outros aspectos, foi discutida a questão financeira de um eventual acordo.
Segundo a PGR, enquanto ocupava o cargo Miller não poderia participar de qualquer tipo de negociação, independentemente da posição no quadro de servidores.
Na PGR, sob Rodrigo Janot, Marcelo Miller negociou as delações de Sérgio Machado, Delcídio do Amaral e Ricardo Pessoa. Também negociou com a Odebrecht.
O advogado Rodrigo Tacla Duran, em depoimento à CPMI da JBS, disse que Miller ofereceu a ele uma delação à la carte:
O Procurador Marcello Miller, quando esteve comigo, começou a dizer uma lista de parlamentares. “Qual o senhor conhece? Qual o senhor pode entregar? De qual o senhor pode falar?”
Tacla Duran, que foi advogado da Odebrecht, sustenta que existe uma indústria da delação premiada e afirma que o advogado Carlos Zucolotto Jr., padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, ofereceu a ele derrubar de 15 para 5 milhões de dólares a multa a ser paga num eventual acordo de delação premiada, desde que U$ 5 milhões fossem pagos a ele, Zucolotto.
Zucolotto não respondeu à acusação, mas Moro assumiu a defesa do compadre:
 O advogado Carlos Zucolotto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística [da Folha] irresponsável para denegrir-me.
No depoimento à CPMI da JBS, Tacla Duran disse também que Marcelo Miller pediu a ele que gravasse uma reunião de executivos da Odebrecht.
Numa reunião subsequente, Tacla Duran disse que entrou na sala e viu uma microfone que pendia sobre a mesa.
“Você vai gravar aqui a nossa reunião?”, perguntou ao colega Adriano Maia, que respondeu “Não, não. Você quer mudar de sala?”
Tacla Duran teria contado, então: “O Procurador lá, o Dr. Marcello Miller, pediu para gravar a nossa reunião”.
Maia respondeu: “Fica tranquilo que esse é nosso”.

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