Postado em 18 de abril de 2018 às 6:57 am
Da coluna de Elio na Folha via DCM.
Desde fevereiro,
quando foi decretada a intervenção federal na segurança do Rio, coisas
estranhas aconteceram, como se algumas peças de um tabuleiro de xadrez se
mexessem sozinhas. Seis casos:
1) Um mês depois da
intervenção, a vereadora do PSOL Marielle Francoe seu motorista, Anderson
Gomes, foram executados. Até hoje os assassinos não foram identificados. No
início de abril, o cadáver de um colaborador do vereador Marcello Siciliano foi
encontrado dentro de um automóvel. (Dias antes, Siciliano havia sido ouvido na
investigação do assassinato de Marielle.)
2) A tropa do
Exército começou um processo de pacificação na Vila Kennedy, e o gabinete do
interventor foi surpreendido por uma operação que destruiu 30 barracas e
quiosques de comércio na praça Miami. O prefeito Marcelo Crivella
desculpou-se, mas ninguém foi punido.
3) Durante uma
inspeção do general que chefia o gabinete da intervenção ao 14º Batalhão da PM
(Bangu), uma parte da tropa formada não lhe deu continência depois da ordem do
coronel-comandante. Foi necessário que a repetisse.
4) Uma inspeção
feita com a participação do Exército no presídio de Bangu 3 resultou num
fracasso, com a apreensão de um celular e ventiladores. Mal planejada, a
operação vazara. Outra iniciativa, da qual participaram 3.400 militares no
Complexo do Lins, também teve resultados pífios porque a bandidagem foi
alertada.
5) Na última semana
de fevereiro, o gabinete da intervenção determinou o retorno de 3.100 policiais
militares e bombeiros cedidos a outras repartições. (O efetivo de cabos e
soldados da PM é de 22 mil.) Um mês depois, a Assembleia Legislativa ainda não
havia atendido ao pedido de devolução de 87 dos 146 PMs lotados nos gabinetes
da Casa. Segundo o deputado André Ceciliano, que ocupa a cadeira de Jorge
Picciani, guardado em prisão domiciliar, o secretário de Segurança não
administra questões financeiras. Nessa linha de argumentação, a Assembleia
deveria pagar os salários dos PMs, mas como o governo do estado não repassa os
recursos, eles continuam na folha da corporação. A Assembleia deve R$ 68
milhões à PM, mas os policiais continuavam lá.
6) Ontem os
repórteres Fábio Teixeira e Gustavo Goulart revelaram que 47 dos 87 PMs lotados
na Assembleia ainda não haviam se apresentado à corporação e arriscavam ser
considerados desertores. Há camelôs que desafiam regras da Secretaria de
Segurança, mas nunca se ouviu falar de militares desrespeitando ordens de seus
comandos de forma tão ostensiva. Uma olhada nas condições dessa bancada revelou
que 31 policiais emprestados recebiam apenas o soldo. Outros acumulavam
penduricalhos, e um cabo acrescentou ao seu soldo de R$ 2.437 um adicional de
R$ 6.495 líquidos.
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